Comunidade Quilombola

Remanso – Lençóis – BA  

São descendentes de negros nagôs com indígenas na região, mais provável de ter havido tribos cariri próximo

Dados da comunidade

A comunidade é reconhecida pela Fundação Palmares desde 22/04/2005, possui título da terra. Lá vivem cerca de 60 famílias, sob acompanhamento da  Associação Quilombola do Remanso com a presidenta Araceli de Souza Dias.

História contada pela liderança Delvan Dias, e as bolsistas Camila da Silva Cruz e Carla Santos da Silva. 

A comunidade de Remanso é composta por descendentes de negros nagôs com indígenas na região, é provável de ter havido tribos cariri próximo, uma da família grande que habitava na fazenda  do Limão, município de Andaraí. As famílias viviam na comunidade do Limão em um método denominado ‘sistema de morada’, muito comum no Nordeste, que substituiu o sistema “escravagista”. Nesse tipo de sistema, o proprietário concede um espaço de moradia para a família, com direito de pequenas roças e, como contrapartida, os novos moradores dão sua força de trabalho não remunerada ao dono da terra. Muitas vezes o latifundiário colocava o gado nas roças antes da colheita e os posseiros perdiam toda produção, em meados de 1942 seu Manoel muda para o outro lado do rio, município de Lençóis, se casa com uma moça das proximidades e começa a trazer outros membros da família, estabelecendo a comunidade de Remanso. Essa comunidade tem uma grande extensão de área alagada denominada de Marimbus, território pantanoso, alagado, semelhante ao pantanal com biodiversidade, fauna e flora específicas.  A sociedade beneficente dos pescadores do remanso, foi fundada em 25 de janeiro de 1959, em 1969 esta entidade foi registrada oficializando e começando a regulamentar dentro dos parâmetros das leis vigentes, em torno  1978 a comunidade recebe a imagem de São Francisco, iniciando assim a representatividade do santo padroeiro da comunidade. Apenas em 1991 foi registrada a escritura de doação de 136 hectares de terra, de título coletivo, sob responsabilidade da entidade da comunidade, em 2005 a comunidade foi reconhecida enquanto quilombo, pela fundação cultural palmares, a partir deste ano a comunidade passou a entender cada vez mais sobre direitos quilombolas e a lutar pelas melhorias na vida da comunidade.

Eu sou  Judite Maria de Jesus, descendente de negros nagôs e indígenas aqui da região. Hoje  tenho 87 anos, nasci no dia 06 de Maio de 1933 na comunidade do remanso, quando ainda morávamos na margem esquerda do rio santo Antônio, nosso rio Marimbus,  sou filha de Madalena Maria de Jesus e Justino Pereira de Souza, cresci numa comunidade que plantava e o gado dos donos das terras comia o plantado e pagava ainda uma taxa pra viver lá ou às vezes pagava com trabalho.

Minhas referências foram os mais velhos da época muita gente mesmo e principalmente minha mãe, desde dos meus dozes anos observava minha mãe benzendo e fazendo remédios caseiros para todos que a procuravam ali e eu fui crescendo e aprendendo com ela. Quando minha mãe faleceu, eu ocupei o seu lugar. Hoje eu benzo, rezo e ensino fazer xarope para os turistas que visitam minha casa e faço remédio caseiro com ervas medicinais para a comunidade e todos que me procuram. Na época em que os mais velhos atravessaram o rio e ficaram onde atualmente é o remanso eu não vim fique lá do outro lado ainda, porque foi assim nem todos atravessaram, alguns demoraram, e meus pais ficaram também. No outro lado do rio eu tinha 3 filhos, Zil, Zé Bracinho e Bui, quando cheguei no remanso, onde é hoje eu tinha 30 anos de idade, aqui só tinha roça e pescaria, não tinha carro, tudo que fosse levado para feira em lençóis tinha que levar nas costas a pé, era dura a vida e a situação de transporte era muito ruim. Até para levar os filhos doentes na rua, teve uma mulher que adoeceu na comunidade, foi necessário levar pra cidade de Utinga nas costas, juntou um monte de homens e levou, então era um lugar bom de se viver mas a vida era difícil. Sobre meu último casamento, foi com Mário velho  que morava mais manezinho aqui onde é o remanso hoje, Mário era meu primo, fomos criados juntos, eu morando com meus pais ainda do outro lado do rio, mesmo com os 3 filhos e  ele começou ir pra lá pra casa e começamos a nos gostar, então ele me chamou pra vir ficar mais ele, agente morava junto com manezinho no começo, enquanto ele fazia nossa casa, enfim mudamos para a casa já feita e depois de  dois anos juntos  a gente se casou  na festa de são Francisco, padroeiro da comunidade. Tivemos nosso primeiro filho quando completou os dois anos, nasceu Domingos que o povo chama de Caburé, tivemos os outros filhos e vivemos 45 anos até que Mário faleceu.

História da mestra Griô Judite Maria de Jesus

Essa comunidade tem uma grande extensão de área alagada denominada de Marimbus, território pantanoso, alagado, semelhante ao pantanal com biodiversidade, fauna e flora específica.  A sociedade beneficente dos pescadores do remanso, foi fundada em 25 de janeiro de 1959,  em 1969 esta entidade foi registrada oficializando e começando a regulamentar dentro dos parâmetros das leis vigentes, em torno  1978 a comunidade recebe a imagem de são Francisco, iniciando assim a representatividade do santo padroeiro da comunidade,  apenas em 1991 foi registrada a escritura de doação de 136 hectares de terra, de título coletivo, sob responsabilidade da entidade da comunidade, em 2005 a comunidade foi reconhecida enquanto quilombo, pela fundação cultural palmares, a partir deste ano a comunidade passou a entender cada vez mais sobre direitos quilombolas e a lutar pelas melhorias na vida da comunidade.

De origem africana Nagô e indígena kiriri ou paiaiá, nasceu a história de seu Aurino, que nasceu no dia 28 de Abril de 1945 em Lençóis  e  cresceu no remanso aprendendo a lidar com a terra  para colher seu alimento. Lagoa do limão, lado do Marimbus onde seu Aurino nasceu, deixou de ser seu lar depois da morte de seu pai, o Sr. Justiniano  Pereira de Souza,  conhecido como Binô  na região. Além da sabedoria do manejo com a terra, seu pai deixou a velha sanfona, instrumento que aprendeu a tocar escondido aos 12 anos. Ele aproveitava que seu Binô ia pescar no rio e não podia levar ele junto, com isso pegava a sanfona pra tocar, quando estava próximo dele voltar guardava o instrumento da mesma forma como estava antes de mexer. Só que às vezes o pai dele percebia que não estava como guardou, então ele perguntava a sua esposa e mãe de Aurino, que se chamava Maria Madalena de Jesus e assim ele disse: “Madalena alguém mexeu na minha sanfona porque não está como coloquei e ela respondia que não”, mas sabendo que foi Aurino.

Assim o tempo passou e Aurino continuava a pegar a sanfona, cada dia aprendia um toque diferente. Até que um dia aconteceu a sua grande oportunidade, seu pai Binô foi convidado para tocar em um casamento, como era sempre que havia alguma festa, e Aurino foi com ele. Seu Binô chegou na festa  e tome tocar sanfona, uma música atrás da do outra, até que já muito cansado parou de tocar e foi no banheiro,  quando foi levantando Aurino falou, deixa que eu seguro pai enquanto o senhor não volta, assim o pai fez colocou no colo dele, daí Aurino encaixou os braços e começou a tocar. As pessoas começaram a gostar, um pegou a zabumba, outro pegou o triângulo e começaram a tocar também, outros entraram no salão e dançaram ao som da sanfona que Aurino tocava e ele ficou  tão feliz ao ver todos dançando que se esqueceu que seu pai podia voltar. Seu Binô do banheiro escutava um som que vinha do salão, pensando meu Deus Aurino deixou alguém mexer na minha sanfona, então ao chegar na sala viu seu filho tocando e as pessoas dançando, ficou encarando seu Aurino ficou todo sem jeito foi terminando a música olhando pra seu pai, então ele se aproximou e perguntou: ”como você aprendeu a tocar sanfona menino?”. Sabendo que o velho não suportava mentiras, contou que pegava escondido dele e sua mãe não tinha culpa porque ele insistiu muito, ele suspeitava que em casa iria levar uma surra pela “aprontação”, porque em casa  era resolvido qualquer problema, o velho disse, você é muito inteligente menino.

No outro dia pela manhã Aurino fingiu que iria matar passarinho e ficou escondido atrás da cozinha escutando se o velho falava de dar uma surra nele, só ouviu o velho reclamar com madalena que se a sanfona tivesse quebrado ele iria querer outra novinha, Aurino comemorava dando graças a Deus por não apanhar. Depois disso nunca mais Aurino parou, tudo quanto é festa de forró ele toca, pois assim como seu pai Aurino era, ele é o melhor sanfoneiro  da região, sua sanfona de oito baixo faz a alegria de todo  povo todo São João. Além de conduzir a festa de São Francisco padroeiro da comunidade, em todo Aniversário da comunidade ele está presente para tocar e a valorização da tradição na comunidade segue viva. Seu Aurino vive no Remanso com sua família, pois ali ele nasceu, cresceu e criou seus filhos com seu trabalho na roça e tocando sua sanfona que é a sua paixão desde criança.

 

O mestre Aurino já fez participações nos seguintes festivais:  

  • FESTIVAL DE ARTES POPULARES – NARÓN ESPANHA 2007
  • FESTIVAL DE ARTES POPULARES – NARÓN ESPANHA 2009
  • FESTIVAL DE LENÇÓIS 2010
  • FESTIVAL DE LENÇÓIS 2012
  • FESTIVAL DE LENÇÓIS 2013
  • APRESENTAÇÃO EM TODAS FESTAS DE SÃO JOÃO DO GRÃOS DE LUZ E GRIÔ
  • TRILHA GRIÔ COMUNITÁRIA DO REMANSO TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA
  • OFICINEIRO DE SANFONA DE OITO BAIXOS
  • MESTRE DA MARUJADA QUILOMBOLA DO REMANSO
  • RODAS DE VIVÊNCIAS E CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
  • MESTRE DO SAMBA DA BEIRA DO RIO
  • MESTRE DA FESTA DO PADROEIRO SÃO FRANCISCO DAS CHAGAS
História do mestre Griô Aurino Pereira de Souza

MANIFESTAÇÃO TRADICIONAL

Jarê

Dentre as manifestações culturais do Quilombo, o Jarê é uma religião de matriz africana, mais especificamente um candomblé de caboclo, que existe exclusivamente na Chapada Diamantina, em alguns dos seus municípios. Uma de suas principais particularidades é o grande sincretismo religioso, com influência do catolicismo, da umbanda, na comunidade é realizado a muito tempo, desde a formação da comunidade, tendo seu maior líder local pelo conhecimento e poder da cura o sr manezinho do remanso, atualmente são realizados em média  em 9 casas diferentes os carurus para Cosme, Damião e deù ou dois dois, e santa Bárbara. A dona Judite é a mais velha da comunidade e a primeira a fazer a festa, sendo a abertura do período dos festejos na comunidade, no dia 17 de setembro, ela conta que desde pequena frequentava o Jarê e a família já fazia a festa de Cosme e Damião. Teve os filhos doentes, com uma tosse brava, e fez a promessa – “se nenhum deles morresse começaria a dar o caruru para Cosme e Damião” e como sobreviveram todos os filhos a promessa é cumprida até hoje, já a mais de 40 anos.

Marujada

A outra manifestação resiste é a Marujada, foi criada pelos negros para contar a historia da chegada dos europeus, em especial dos portugueses no Brasil. É uma representação teatralizada com homens  e/ou mulheres vestidos de marinheiros e oficiais que se apresentam em festas e eventos populares nas cidades. Tem diversos nomes: fandango, barca, fragata, barquinha, nau-caterineta, chegança de marujos ou marujada. A partir do grupo de Lençóis do mestre Ceciliano em torno de 1949, por Manoel Pereira da Silva ‘‘o Manezinho do Remanso’’, que trouxe os mais velhos da comunidade do Remanso para aprender. Nesta época, o mestre era João Pereira, primo de Manezinho. O lugar de oração na manifestação era ocupado por  Aurino Pereira, única criança do grupo. Hoje Aurino é o Mestre da Marujada Quilombola do Remanso que estava adormecida e foi acordada pelos projetos pedagógicos da escola na comunidade com as professoras Valdirene e Lia. Assim, com o apoio da comunidade e das associações do Remanso e de Lençóis, os grupos de marujada seguem em processo de resistência, já participou do encontro de cheganças da Bahia que aconteceu em Saubara-ba, apresentando em festivais, festas, na passagem da Tocha Olímpica por Lençóis-ba, e na festa de São Francisco que é padroeiro da comunidade.

MITO HISTÓRIA NEGO D’AGUA

Segundo os mais velhos, a maior lenda do Remanso é a do Nego d’agua. Diz a lenda que o nego d’água é um negro baixinho, parece um toco preto e baixo, mas, apesar do tamanho, é muito forte, protege o rio, não permite que pescadores pesquem mais do que o necessário para a alimentação e aqueles que pescarem demais ou bagunçarem, destruindo e poluindo o rio, vão se ver com o nego d’água. Só que um dia um pescador viu o nego d’água sentado fora da água pegando um solzinho. Deu na idéia que ia matar o nego d’água pra poder pescar o quanto quisesse e foi chegando com a canoa por traz e deu uma remada na cabeça do nego d’água, derrubando-o dentro da água. Ele saiu remando bem rápido, com alegria, mas com medo, e rapidamente chegou em casa. Junto com ele tinha mais outros 2 pescadores. Ele já chegou contando o caso dizendo que tinha matado o nego d’água. Os pescadores, desconfiados, disseram: “rapaz, você não matou”. Ele insistia que tinha matado e os pescadores também insistiam. Ele azoou e disse: “eu matei e acabou e vou dormir lá fora que aqui já tá fedendo a homem demais”. Mas o negro d’àgua que foi atingido na sua comunidade foi pressionado pelos outros a descontar a agressão, a noite quando o rapaz, armou sua rede do lado de fora e dormiu algo aconteceu. Na manhãzinha, os pescadores se levantaram lá pelas 4h da manhã e o pescador estava dormindo. Eles acharam estranho e deixaram, pensando que ele tinha bebido demais, mas, estranhamente, o homem não despertava, e, quando eles abriram a rede… “Cadê a cabeça do homem?” O nego d ‘água tinha levado a cabeça do rapaz pra que servisse de exemplo para o restante que tentasse mexer com o nego d’água. E foi jogar bola com a cabeça do pescador, deste dia em diante se apenas falasse o nome do negro d’agua próximo do rio, dizem que ele aparecia, esta historia é contada pelos mais velhos para orientar e educar as crianças que bagunçam no rio Marimbus da comunidade quilombola do Remanso.

Participação política da comunidade

 Conselho de Cultura
Conselho Quilombola Regional
Conselho Quilombola estadual
Conselho municipal de Cultura
Conselho Municipal de meio ambiente
CONAQ/ Conselho Nacional  dos quilombos
CEAQ-Ba/ Conselho Estadual  de Associações Quilombolas da Bahia
Coordenação/ Participação de Atividades comunitárias
Conselho Quilombola da Chapada Diamantina
 

Necessidades prioritárias

Saneamento básico nas casas
Acesso a internet e inclusão digital
Apoio a grupo culturais
Apoio a festas tradicionais
Reforma/implantação do posto de saúde
Projeto de irrigação e equipamentos para roça
Reforma de casas de farinha
Projeto de psicultura
Projeto de apicultura
Projeto de turismo comunitário
Reforma na estrada
Projeto político pedagógico na escola
Incentivo a agricultura familiar
Implantação do PENAE/ programa nacional de alimentação Escolar
Bolsa de incentivo para mestres Griô quilombola
 
 

Delvan Dias – Liderança da Comunidade

Carla Santos – Jovem Bolsista

 

Raiane Silva – Jovem Bolsista

 

Camila Silva – Jovem Bolsista