Comunidade Quilombola

Corcovado e Tejuco – Palmeiras-BA  

Antigamente era Serra Pelada

Dados da comunidade

A comunidade é reconhecida pela Fundação Palmares tendo como data de reconhecimento em 04/03/2008. Também tem o título de terras e vivem cerca de 50 famílias. A Associação comunitária, se chama Associação Quilombola da Comunidade de Corcovado, e a presidente é  Vilma Novais Damacena (75) 99187-4261.

Facebook da Associação: quilombocorcovado

E-mail: [email protected] / @quilombocorcovado

A comunidade Quilombola Corcovado, situada no município de Palmeiras (Ba), foi iniciada no ano de 1950. Segundo os mais velhos, o período de fundação foi marcado pelos desafios de sobreviver naquele tempo. A comunidade chegou a ser nomeada como  Serra Pelada, entretanto, passou-se a ser chamada popularmente como Corcovado. Nesse período construímos a pequena igreja de irmã Dulce, a santa que nos representa por ter sido uma grande mulher que cuidava das pessoas mais necessitadas. A nossa comunidade não tinha estrada e nem transporte. Tudo era feito a pé. Também não tínhamos escola e durante uma década fomos impedidos de estudar na escola da sede. Éramos obrigados a ir num carro aberto até o calcário numa comunidade chamada Rio preto. Com o passar do tempo, fundamos uma associação em prol de melhorias para  nossa comunidade. A partir desse movimento conseguimos implantar luz, água e através do artesanato criamos um símbolo representado pelo café, palmeiras e diamante. Tudo que temos aqui nos ajudou a matar a fome em tempos difíceis. Uma parte ruim daqui são as poucas oportunidades de  trabalho para os pais de família que toda vida se sustentaram através da agricultura de subsistência, das suas roças e do plantio de mandioca, milho e feijão.  Alguns deles foram para São Paulo buscando oportunidades melhores e sustentar sua família, inclusive o Sr. Joaquim e Sr. Salvador. Eles trabalhavam no  “macaco de sol a sol”, expressão usada pelos mais velhos, e ganhavam na época entre 10$ e 20$ reais fazendo cerca, roçando etc. Para esse trabalho, eles geralmente levavam seus filhos para a roça pela falta de ter alguém para ajudar a cuidar. A partir de 2015 começamos a executar projetos, e desde então, estamos cada vez mais nos articulando  e implementando melhorias para a nossa comunidade que hoje tem como principal fonte de renda o artesanato.

Sou  Joaquim Alves Damacena, tenho 79 anos e nasci dia 28 de maio de 1942. Filho de Apolinário Alves Damacena e Alvina Rosa Damacena, morei um período no campestre e depois  fui morar no  Pati. Em seguida me mudei ainda muito rapaz, tenho poucas lembranças de lá porque logo fui morar no Fundão e de lá fui para Corcovado.

Ao chegar na comunidade de Corcovado, conheci o sossego mas não tinha água, luz e a estrada não era muito boa. O caminho era por uma mata onde passava um pequeno carreiro, e por lá seguíamos para fazer a nossa compra na cidade de Palmeiras. Como não tínhamos transporte e nem condição para comprar um animal, trazíamos a nossa compra na cabeça. Com o passar do tempo, consegui comprar um terreno na comunidade de Corcovado, e aí fomos fazendo plantações para termos o que comer. O meu pai morreu muito novo, por isso tivemos que ajudar a nossa mãe. Sou aposentado viúvo, perdi minha esposa com 56 anos e hoje conto com o apoio de meus filhos e meus netos. Agora  posso  dizer que estou  orgulhoso e melhor de vida com o pouco que tenho, sou mestre de Chula e a música mais preferida é a da (sabiar), onde junto aos meus irmãos, cantamos em grupos levando alegria para a nossa comunidade. Tudo isso surgiu depois do que aconteceu com a perda dos mais velhos. Eu aprendi tudo que sei com eles e tenho muito orgulho de ser quilombola.

História do mestre Joaquim Alves Damacena

Em um dos mitos da nossa comunidade, os mais velhos falaram que numa noite começou a fazer barulho e os cachorros começaram a latir. Era um bicho misterioso que feriu os cachorros e os cachorros revidaram, foi uma briga feia. Os moradores começaram a sair das suas casas para ver o que estava acontecendo e um dos moradores afirmou ter visto um vulto muito rápido que acabou subindo em um pé de jaca. Os cachorros machucados, ficou latindo em volta do pé de jaca olhando para cima e o pessoal clareando com a lanterna mas não via nada.

Um outro mito contado aos mais velhos é da história do lobisomem que era virado de gente. Quando uma mãe tinha seis filhas e o sétimo fosse homem, se a mais velha não batizasse o sétimo ao completar treze anos, se transformava em lobisomem. Eles também contam que, quando virava lobisomem, tinha que correr em sete cemitérios para não se transformar novamente antes da meia noite. Quando dava seis horas, ele ia no espojeiro de jegue deixava a camisa pelo avesso e quem achar a camisa e desavessar a lobisomem de imediato se transformava em homem novamente. Os nossos avós diziam que aparecia aqui no Corcovado um ser muito macabro em forma humana misturada com cachorro, um bicho muito peludo que se movia envergado com a cabeça entre as pernas e o seu alimento era filhotes de cachorro. Ele também costumava lamber o forno onde se torra a farinha em época de lua cheia, ninguém saia a noite, não tinha luz elétrica e a partir das seis todos se recolhiam em suas casas. Quando o danado aparecia era muito barulho cachorro latindo, ganindo e uivos tenebrosos.

Sou Cleonice Rosa Damacena, tenho 67 anos e nasci no dia 31 de Maio de 1950, nasci no Campestre,  depois  do campestre  eu  fui morar no Vale do Pati ainda muito pequena, tenho poucas lembranças de lá. Com o tempo passei a morar no fundão e de lá fui para Corcovado. Depois que cheguei na comunidade de Corcovado, fui conhecer o sossego mas ainda não tinha água, luz e a estrada não era muito boa. Era uma mata que passavamos por um pequeno carreiro, através dessa estrada fazíamos a nossa compra na cidade de Palmeiras. Nós não tínhamos transporte e nem condições para comprar um animal, por isso trazíamos as nossas compras na cabeça. Aos 18 anos me casei e tenho um filho único.

Com o tempo meu irmão também conseguiu comprar um terreno na comunidade e a gente foi fazendo plantações. Sempre trabalhei na roça, planto feijão, milho, mandioca, sobretudo quando o ano tem boas chuvas. Na comunidade aprendi a fazer algumas artes, faço vassoura, esteira. O maior desejo para nossa comunidade é ter uma estrada, outra coisa é a água que tem hora que tem e tem hora que não tem. Seria bom que isso melhorasse porque a nossa região é muito seca. A luz foi uma benção de Deus quando chegou aqui pra nós, e sempre agradecemos a Deus por essa conquista. Eu também sei fazer biscoitos, bolos e outras coisas para termos o que comer. O meu pai morreu muito novo e por isso tivemos que ajudar a nossa mãe desde cedo, hoje sou aposentada e ajudo meu filho no que posso. Agora posso dizer que estou bem melhor de vida com o pouco que tenho. Sou mestre de Chula junto com meus irmãos, depois da perda dos mais velhos eu aprendi tudo que sei através deles. Me orgulho de viver no Corcovado e é um lugar muito sossegado.

História da mestra Cleonice Rosa Damacena

MANIFESTAÇÃO TRADICIONAL

Festejos de Réis

os Festejos de Réis que acontece tradicionalmente entre os dias 25 de dezembro até o dia 06 de Janeiro. Esse festejo é comemorado na comunidade há mais de 4 décadas, nele toda comunidade se reúne  para fazer as cantorias  para apresentar nas comunidades do entorno: Taquari, Lajedinho, Matão e Julião. Os grupos eram em torno de 20 pessoas, onde os mesmos passavam de casa em casa repetindo os hinários, cantorias e ladainhas até o retorno à comunidade, todo o percurso era realizado a pé na estrada de barro. Infelizmente, após o falecimento de alguns mestres e anciãos, a manifestação perdeu um pouco a força e agora as gerações mais jovens estão se envolvendo novamente. A partir disso essa tradição está sendo  potencializada no território e conseguimos ser contemplados no chamamento Jaime sodré como projeto de Desenvolvimento Territorial do Quilombo de Corcovado. Conseguimos realizar a oficina de troca de saberes  do samba Chula e do Reisado, entre os mestres e os mais jovens, essa ação foi importante porque sentimos que a tradição está de novo ganhando força na comunidade. Houve também aquisição de instrumentos e alguns figurinos, o que fortaleceu a manifestação musical na comunidade, mas ainda precisamos de mais figurinos para termos mais participação. Dentre os materiais que usamos está viola, violão, pandeiro, zabumba, turumí, triângulo, tambaqueta, chocalho.

Festejos de  Semana Santa

Os Festejos de  Semana Santa, no qual comemoramos no mês de Março ou Abril, não tem data específica. Na Quinta feira, fazemos um encontro na casa de dona Maria José para almoçarmos juntos e a noite fazemos a janta na casa de dona Cleonice. Todo mundo doa os alimentos e na sexta feira reunimos para ir acender vela no cemitério no Lajedinho, comunidade vizinha. Costumamos dar benção de joelhos aos mais velhos e padrinhos para fazer parte da mesa, para esse encontro a pessoa precisa ficar em jejum de manhã até meio dia. Neste dia, o almoço e janta é feito na casa de dona Adelita de manhã, mas quando dá o horário das três e meia, vamos para o Cruzeiro rezar, fazer preces e na volta fazemos a refeição na casa de  dona Adelita. Após o jantar, a reza continua noite adentro e somente no sábado pode ter alegria e festa na comunidade.

Participação política da comunidade

 Conselho de Cultura
Conselho Quilombola Regional
Conselho Quilombola estadual
Conselho municipal de Cultura
Conselho municipal da criança e do adolescente
Conselho Municipal  de desenvolvimento Social
Conselho Municipal de meio ambiente
CONAQ/ Conselho Nacional  dos quilombos
 CEAQ-Ba/ Conselho Estadual  de Associações Quilombolas da Bahia
Coordenação/ Participação de Atividades comunitárias
 Conselho Quilombola da Chapada Diamantina
  

Necessidades prioritárias

Acesso a internet e inclusão digital
Projeto de irrigação e equipamentos para roça
 Projeto político pedagógico na escola
Bolsa de incentivo para mestres Griô quilombola

Rozeane Damacena de Araújo – Jovem Bolsista

Rivaldo Silva Damaceno – Jovem Bolsista