Comunidade Quilombola

Barra II – Morro do Chapéu – Ba  

A comunidade recebeu o nome de Barra por conta de um córrego que atravessa a comunidade

Dados da comunidade

A comunidade é reconhecida pela Fundação Palmares desde de 31 de outubro de 2001 com cerca de 60 famílias. É acompanhada pela Associação remanescentes quilombola da comunidade de Barra (74 9 91080983). Dentre necessidades prioritárias estão apoio a grupos culturais, apoio às festas tradicionais, reforma da escola, incentivo à agricultura familiar/ projeto de irrigação e equipamentos para roça. A comunidade teve acesso aos projetos do CAR com projeto casa de farinha, Casa do doce e crédito fomento.

A comunidade de Barra II foi fundada entre os anos de 1910 a 1938, sendo os primeiros moradores o Sr. Laudelino, Sr.Líbio, Sra.Vicentina, Sra. Maria, Sra. Cabocla, e outros que não foram citados. A comunidade recebeu o nome de Barra por conta de um córrego que atravessa a comunidade, antigamente quando chovia muito o córrego ficava com bastante água entre a margem e nela ficava uma barra de água escura, por isso que deu o nome da comunidade de Barra. No entanto, tem outra comunidade bem próxima, que também se chama Barra, e para especificar as Barras foi acrescentado I e II.  A primeira Barra I, e a segunda Barra II.

Uma das festas mais esperadas do ano é o novenário de Nossa Senhora Aparecida, que é celebrado em outubro. Essa festa tem uma grande importância na comunidade por conta de ser uma homenagem, veneração, intersecção a uma santa negra. Para nós isso é motivo de muito orgulho para nossa comunidade, e segundo relatos, muitos de seus devotos da comunidade já receberam milagres através dela.

Maria de Souza Carmo, nascida em 19 de maio de 1935, é filha de seu Manoel do Carmo e dona Porfíria do Espírito Santos.

  “Meu nome é Maria De Souza Carmo, tenho 84 anos de idade.

_ Já sofri muito pois fui criada só pela minha mãe, quando eu tinha dez anos eu já trabalhava com a enxada na roça, quando eu ia estudar não tinha as coisas para comer e fazia paçoca com licuri para levar para merendar. Para poder aprender a letra do A, eu não sei muito fazer conta, mas ler e escrever eu sei, pois  leio muito a bíblia.  Mas nós sofremos muito, nossas casas não tinha um assento, nem fogão, acendia um fogo no chão, comprava uma garrafa de gás para acender o fogo, outras vezes tirava a cera da abelha, fazia a candeia, pregava na parede e acendia o fogo para clarear. Os colchões eram de palha de banana e também tinhas as esteiras, não tinha jeito mesmo… depois as coisas foram melhorando, meu sogro comprou as mudas de marmelo e começou a plantar mais os filhos. Ele tinha nove filhos, aí foi fazendo roça de marmelo, café, banana,mandioca, fazia lavoura de alho nos brejos e os caminhões vinham pegar o alho aqui na Barra. O povo de Catinga do Moura vinha pegar o marmelo, só que infelizmente muitos não pagavam e a gente ficava no prejuízo.

Com o passar do tempo as coisas foram melhorando e a gente foi cuidando mais das casas e hoje não temos vergonha de receber ninguém. Antes nós não recebiamos porque as casas eram de barro, mas eram limpas. O chão de terra era bem limpinho porque nós só somos negros, mas somos limpos. Nós sofremos muito preconceito, tá pensando que quando a gente ia casar no Morro era bom? Era a não. Na igreja já tinham os lugares dos negros separados. Mas hoje graças a Deus já mudou… nós temos nosso pedacinho de chão, nossa casinha para morar e não pedimos nada a ninguém, nem mesmo a prefeitura, se morrer um ou adoecer os próprios moradores ajuda uns aos outros. Nós temos nosso pedacinho de terra e plantamos muita coisa mandioca, feijão de corda, andu, batata, aipim e vamos sobrevivendo. Eu mesma só sou velha, no dia 13 de julho vou fazer 84 anos e to triste porque não to pegada no cabo da enxada porque eu to meio adoentada, mas eu vou melhorar e vou fazer minhas leirinhas, plantar meu andu, plantar feijão porque eu não posso parar… Meu orgulho é ver meus filhos, netos e bisnetos sempre lutando por dias melhores, e buscando valorizar a cultura da comunidade para que não acabe e seja passada de geração em geração ”.

História da mestra Griô Maria do Carmo

O principal mito da comunidade é o chamado Mito do Arco-íris. Os mais velhos da comunidade de Barra II, contavam as crianças nas rodas de histórias que aconteciam nas bocas de noites no terreiro das casas, o mito do Famoso Arco-íris. Assim se repetia em toda comunidade rural que não existia energia elétrica, as rodas de conversa na beira de uma linda fogueira, histórias contadas pelos mais velhos. Nesta comunidade, as crianças cresciam assombrados com medo do arco-íris que engoliam menino e soltava menina, se engolisse menina soltava menino. E quando viam o arco-íris todas as crianças tinham medo, não saiam de casa e isso foi passado de geração em geração, até os dias de hoje.

Edimilson Soares dos Santos, nascido  em 06 de fevereiro de  1990, filho de seu Osvaldo Pereira Dos Santos e Dona Valdete Soares Dos Santos, mestre de capoeira da comunidade, dar aula para jovens e crianças.

Meu nome é Edmilson Soares dos Santos, sou morador  do Quilombo Barra II, tenho 30 anos e dois filhos. Sou casado com Eliene Souza do Espírito Santo, uma quilombola neta de dona Maria do Carmo, matriarca da comunidade. Fiquei afastado da comunidade por um tempo devido ao trabalho, mas depois de alguns anos retornei, e  hoje trabalho aqui mesmo. Eu gosto muito de participar dos eventos da comunidade, junto com os jovens e crianças. Implementei um grupo de capoeira Raízes  Baiana na comunidade, pois antes era preciso vir algum mestre de fora e hoje tenho orgulho de dizer que sou um representante da capoeira e poder organizar os treinos. Me sinto muito feliz em poder estar compartilhando meu conhecimento da capoeira passando para as próximas gerações, pois  desde dos treze anos de idade que já participava da capoeira na sede de  Morro do Chapéu, e só  depois dos 20 anos que voltei para a comunidade e dei  continuidade a capoeira. Infelizmente, hoje depois da pandemia que ficou meio difícil de organizar e reunir os membros, mas assim que acabar a pandemia iremos continuar nossos treinos todos os domingos como acontecia antes.  Meu maior orgulho de pertencer a essa comunidade é  que mesmo tendo seus desafios ela tem um grande  potencial para seguir em frente com seus empreendimentos, só precisava o poder público dar mais uma importância e atenção para a comunidade, no sentido de incentivar a produção e a cultura local.

História do mestre Griô Edimilson Soares dos Santos

A comunidade é a única na região que produz marmelo, por isso, este se tornou um símbolo da comunidade, tanto na esfera local quanto municipal, e até mesmo regional. O marmeleiro significa resistência, pois mesmo com pouca chuva nos últimos anos ele ainda produz bastante. Apesar da falta de chuva para uma melhor produção ele ainda é um dos meios econômicos para a comunidade, pois é através dele que muitas famílias conseguem ter uma renda para tirar seu sustento, seja através da venda do fruto ou dos produtos derivados do mesmo, como doces, geléias, licor, polpa etc.

Esses produtos geralmente são expostos na feira livre de Morro do Chapéu, onde muitas famílias botam barracas de produtos oriundos da agricultura familiar. O marmelo se tornou a principal fonte de renda da comunidade, pois além do cultivo do marmeleiro também são produzidas outras culturas tais como: batata doce, feijão de corda, andu, mandioca/aipim, milho, manga, alho, etc. Todas através de irrigação via poço artesiano ou não. Esses produtos também são escoado para feiras agrícolas e mercados, padarias, lanchonetes do município e entregue nos programas, PAA (Programa De Aquisição De Alimentos) e PENAE  (Programa Nacional De Alimentação Escolar) pela prefeitura Municipal de Morro do Chapéu, além das encomendas feitas por turistas de alguns doces, geléias e licores.

MANIFESTAÇÃO TRADICIONAL

Festa da Nossa senhora Aparecida

Uma das nossas manifestações culturais é a Festa da Nossa senhora Aparecida que ficou sendo também padroeira da comunidade por conta de ser uma santa negra.  Os mais velhos tinham uma grande reverência a ela e aí resolveram sempre fazer festa em sua homenagem. Para a festa precisamos de berimbau, caxixi, som e timbal. Outros materiais também são necessários como pandeiro, caixa, agogô, atabaque e uniforme.

Capoeira

Uma outra manifestação cultural é a capoeira teve visibilidade maior na comunidade quando as crianças junto com a educadora do quilombo faziam rodas de capoeira na escola. E com isso foi tendo outra visão as crianças começaram a praticar a capoeira juntos com seu monitor. Para os mais velhos a capoeira era vista como uma coisa ruim, mas não era e naquele tempo tinha mais de quinze pessoas praticando entre jovens e crianças. Mas ao passar do tempo isso foi se acabando e hoje só restam três. As vezes tem cultura na comunidade mas não sabemos valorizar é preciso se agregar para nunca acabar. Pra mim a capoeira tem uma importância muito grande, desde que eu era criança que tinha vontade de aprender. Até que um dia entrei no grupo raízes Baiana e hoje me sinto muito bem em ter essa cultura junto comigo. Não temos uniformes, som e espaço para rodas. Também são necessários os instrumentos de violão, pandeiro, microfone e som.

Participação política da comunidade

Conselho de Cultura
Conselho Quilombola Regional
Conselho Quilombola estadual
Conselho municipal de Cultura
Conselho Municipal de meio ambiente
CONAQ/ Conselho Nacional  dos quilombos
CEAQ-Ba/ Conselho Estadual  de Associações Quilombolas da Bahia
Coordenação/ Participação de Atividades comunitárias
Conselho Quilombola da Chapada Diamantina
  

Necessidades prioritárias

Saneamento básico nas casas
Acesso a internet e inclusão digital
Apoio a grupo culturais
Apoio a festas tradicionais
Reforma/implantação do posto de saúde
Projeto de irrigação e equipamentos para roça
Reforma de casas de farinha
Projeto de psicultura
Projeto de apicultura
Projeto de turismo comunitário
Reforma na estrada
Projeto político pedagógico na escola
Incentivo a agricultura familiar
Implantação do PENAE/ programa nacional de alimentação Escolar
Bolsa de incentivo para mestres Griô quilombola

Daniel de Jesus  – Liderança Bosistas

Mauricio Souza – Jovem Bolsista

Valdineia Alves  – Educadora Bolsista