Comunidade Quilombola

 Iuna – Lençóis-BA  

A nossa comunidade foi se povoando através de várias fazendas

Dados da comunidade

A comunidade é reconhecida pela Fundação Palmares tendo como data de reconhecimento em 16/11/2005 tendo título da terra e um total de cinquenta famílias na comunidade. Possuem a Associação dos Pequenos Produtores Rurais e Pescadores de Iúna, cuja presidenta é Iracema Sacramento Santos (75 98517867).

Participou do Projeto intercâmbio Cultural Entre Comunidades Quilombola, Categoria Africanidade / Emília Biancardi. Teve acesso aos projetos da CAR/ Bahia produtiva com o Quintais agroecológicos com extensão para aviários.

Endereço de email: [email protected]

E-mail da associação: [email protected]

A Iúna surgiu em meados do ano 1917, porém o povoamento se deu em 1932 por conta da grande seca que se alastrou no Nordeste. No processo de formação existem três troncos familiares Quilombolas.  A primeira família quilombola que veio habitar estas Terras foi a do senhor Marcelino, vindo de Mundo Novo, em 1917. Ele pediu Moradia ao senhor Irineu, pai do Senhor Hélio Dultra e habitou a Fazenda Prato Raso, onde pescavam no Rio Santo Antônio e plantavam roças nas baixadas e na vazante. O senhor Marcelino, casou-se duas vezes na comunidade.

A segunda família que veio  habitar estas terras foi a do senhor Mathias, ele veio de outra comunidade quilombola chamada Remanso para morar na fazenda Bonita. No ano de 1932 mudou-se para a fazenda Jirau do senhor Hélio Dultra para pescar nas lagoas, fazer azeite de Dendê e plantar roças nas vazantes.

E em terceiro, a família do senhor Rosalvo Curador que saiu da Fazenda Velha na encantada para morar na Fazenda do senhor Esmeraldo Senna, conhecida hoje como Fazenda Espírito Santo do senhor José Rebouças. O senhor Esmeraldo estava acolhendo muitos trabalhadores para trabalhar nos engenhos que produziam cachaça, rapadura, e melaço. Por lá também possuía vastas plantações de arroz, cana de açúcar e batatas nas vazantes, o senhor Rosalvo veio como empreiteiro na fazenda e tinha até um barracão para atender aos trabalhadores, por ali trabalhava e compravam entre si.

A nossa comunidade foi se povoando através de várias fazendas. Cada família trouxe um culto religioso e assim festejavam. A família do senhor Marcelino festejava o Reisado e Samba do rio, a família do senhor Mathias  festejava um Reisado diferente e o samba de Roda, Dona Maria de Franço fazia a Ladainha de Senhor Bom Jesus da Lapa, a família da senhora Micuta festejava Santa Luzia e a família do senhor Rosalvo festejava vários Santos, dentre eles São Sebastião que tinha a reza por ser o dia que ele nasceu. Também fazíamos a festa de São Pedro, pois ele era pai de Santo, curador, erveiro e preparava garrafadas de raízes e ervas medicinais para cuidar dos que estavam precisando. Ele benzia de mal olhado e rezava espinhela caída, curava picada de cobras e expulsava espíritos mal.  Apesar de diferentes cultos, todos se uniam e um ia para o festejo do outro, não existia televisão então eles prozeavam nos terreiros a beira de uma fogueira, contava histórias para suas famílias.

Um dia o senhor Lindolfo Santos, proprietário desta fazenda junto com os moradores mais velhos  resolveram dar um nome a sua fazenda e escolheram o nome de um pássaro que tinha bastante por alí e passava cantando ao escurecer. O nome do pássaro era Iuna Mandingueira,  e assim batizaram esta fazenda com o nome de Iúna.

Francina de Souza Maia, popularmente conhecida como Dona Quena, filha de Maria Francisca de Jesus e Francilino de Souza Maia, nascida em 02/09/1955, na fazenda Bonita, hoje Bioenergia orgânico. Aos 5 anos, foi morar na Fazenda Vitória com seus pais, hoje fazenda Espírito Santo. Aos 10 anos, retornou para fazenda Bonita, onde ajudava seus pais na plantação de milho, cana, abóbora, e etc.  Com o passar do tempo foi morar na fazenda Lagoa seca, hoje fazenda galope, onde conheceu seu esposo, Aurino José Maia de Souza, popularmente conhecido como Roxo. Casaram-se e tiveram seu primeiro filho, logo após 2 anos de grávida de seu segundo filho, mudou-se para fazenda Buriti, onde vivia da pesca, da plantação e do trabalho braçal que seu esposo exercia nas fazendas vizinhas.

    Dona Francina é mãe de dez, sendo sete homens e três mulheres, todos integrantes do grupo Samba de roda, e dos festejos de Cosme e Damião. Sua família toca vários instrumentos, passando o ofício familiar a alguns dos seus filhos mais velhos que gostam de festas bem humoradas, autoestima elevada. O maior dom dessa família é a união.  Hoje aposentada, com seus 10 filhos criados, faz parte da Associação de pequenos produtores e pescadores rurais de Iúna. Dona Quena reside na comunidade quilombola de Iúna há 45 anos.

Relato de Dona Quena:

 Eu me orgulho de morar aqui, quando viemos o tempo era bom de chuva, a gente já sabia a época de roçar, a gente já sabia a época de queimar assim como a época de plantar. Tudo que plantamos dava. Era feijão, milho, abóbora, aipim, mandioca. Fazia farinha, vendia abóbora naquele tempo, era muito bom e nossa plantação era motivo de orgulho. Tínhamos muita água perto, agora que ficou difícil, porque a chuva ficou mais escassa.

 

   A importância de dona Quena para a comunidade é que faz os festejos de Cosme e Damião, também integrante do grupo de Samba. As pessoas que cantam os batuques e chulas, fazem parte do conselho fiscal e da associação.

História da mestre Griô Francina de Souza Maia (Dona Quena)

A partir de algum tempo as pessoas começaram a chamar toda  esta localidade de Iúna, por conta da união de culturas, sobretudo porque um celebrava o culto do outro, e alí se uniram. O nome leva em consideração o nome do pássaro Iuna Mandingueira, o símbolo que representa a história da comunidade não tem nenhuma relação com a religiosidade das famílias. Porém sobre este pássaro as pessoas  mais novas da comunidade não o conhecem e não o vê, por isso chegamos a conclusão de que já não existe ou se tem está extinto.

A nossa padroeira é Nossa Senhora Aparecida, nos representa por ser uma santa negra  e também por ser protetora dos pescadores que é uma das fontes de renda de algumas famílias da comunidade. Hoje a comunidade conta com 50 famílias que sobrevivem da agricultura de subsistência e do Bolsa Família, algumas tiram a renda do azeite de dendê, e outras são assalariadas porque trabalham na Bioenergia orgânicos que é a antiga Fazenda Bonita. Antes muitas famílias da comunidade tirava fonte de renda do Buriti, há mais ou menos 10 anos esta fonte de renda diminuiu, está quase extinta. Os coqueiros não produzem mais,  por conta da seca que a mais ou menos 20 anos afeta o rio Utinga.

 

Aurino José de Souza, conhecido como Roxo, nasceu em 03/03/1953 na comunidade Quilombola de Remanso. É filho do senhor Matías José de Souza e dona Nonata Ribeiro de Souza, natural de Lençóis-Ba. A sua família Quilombola é oriunda da Comunidade do Remanso, eles migraram do Remanso para Iúna vindo morar na fazenda Bonita, hoje Bioenergia Orgânicos. Dona Nonata faleceu muito cedo, deixando seu Mathias com sete filhos homens para criar e uma filha mulher, sendo Roxo um deles.

Depois de um tempo o senhor Mathias mudou-se da Bonita vindo morar na fazenda Jirau do senhor Hélio Dutra. Após alguns anos seu Mathias conheceu Dona Maria vindo de Oliveira dos Brejinhos após o falecimento do senhor Franço. Ela ficou viúva com 2 filhos e três filhas. Ambos resolveram morar juntos e cuidar de todos os filhos.

 Roxo terminou se casando com Francina, popular Quena, e formaram uma família super unida. Ele é integrante e mestre do Grupo de Samba de roda da sua família, toca vários instrumentos passando este ofício familiar a alguns dos seus filhos mais velhos. Roxo é fundador da Associação  de moradores da comunidade, mestre artesão da pesca, tecedor de malha de pescar, artesão da palha de taboa, trançador de esteira, agricultor familiar, pescador, trabalhador braçal em fazendas.

  Hoje aposentado, os filhos estão criados e têm vários netos, é uma importante figura na comunidade, também faz parte do conselho da associação ocupando a cadeira de vice-presidente, também é responsável pelo grupo de samba de roda. Ele afirma ter orgulho de ter vindo para Iúna, onde já tocou  roça, criou porcos e galinhas.

História do mestre Griô Aurino José de Souza (Roxo)

Um dos Mitos da comunidade, chamado A Ladeira da Muriçoca, Iracema S. Santos conta que várias pessoas da comunidade carregam grandes cismas em passar por esta ladeira após o anoitecer. Não só a ladeira, mas antes dela na encruzilhada, onde vai para escola e associação eles contam que  antes de subir a ladeira existem relatos reais de pessoas que viram e encontraram coisas estranhas.

Contavam-se Edivaldo, conhecido como Diva, que senhor Antônio de Marcolina e um amigo Cosme filho do senhor Florêncio, ambos já falecidos, estavam indo para o coqueiro quando na encruzilhada às 19 horas da noite olharam para o lado e viram um carneiro branco. Diva tentou pegar e não conseguiu, caiu no chão puro e não conseguia pegar, Cosme não via nada, quando Diva tentou contar para o amigo, perdeu a fala, foi preciso seu pai tarrafear para voltar a falar. Por isso sempre ao anoitecer evitavam passar neste lugar.

O senhor Domingos Nunes de Souza, conhecido como Domingão, também já falecido, conta que quando namorava sua esposa Marizé, vinha altas horas da noite para sua casa na fazenda de José Rebouças. Uma certa noite ao chegar no meio da ladeira tinha um caixão de defunto atravessado e um clarão que ele conseguiu ver em detalhes, ao virar as costas ele sentiu mais remorso ainda e Domingo resolveu encarar de frente. Nesse momento, lembrou que os mais velhos falavam que se atravessasse algo de ferro na boca, venceria o medo, ele lembrou da sua peixeira (faca na cintura), atravessou a mesma na boca e soltou por cima do caixão. Ao olhar para trás não viu mais nada, já tinha desaparecido.

Zezito filho do senhor Rosalvo, curador da comunidade, os dois já falecidos, um dia estavam vindo da pescaria na lagoa bonita mais ou menos às 22 horas da noite, ao chegar nos pés de caju, no início da ladeira, veio de encontro com ele uma porca de banda só, saindo fogo da boca e rocando. Ele se assustou, mas lembrou de outros relatos de pessoas da comunidade, segurou firme seu facão na mão e passou por ela se arrepiando de medo. A explicação que os mais velhos da comunidade têm é que nesta baixa morou uma família da senhora Marcolina que era uma verdadeira bagunça, filhos não respeitavam os pais e os pais não respeitavam os filhos, um dia um dos filhos bateu na mãe com uma mão de pilão, enquanto pilava arroz, os pais jogavam pragas nos filhos e assim sucessivamente. Ambos faleceram e este trecho  ficou mal assombrado.

MANIFESTAÇÃO TRADICIONAL

Festejos de Cosme e Damião

Uma das manifestações culturais da comunidade é em homenagem a Cosme e Damião, segundo Dona Quena, após o quinto filho, ela ficou grávida de gêmeos. Ambos nasceram no mês de agosto, com os nomes de Gilmar e Gilvan. Segundo a tradição da religião católica e dos mais velhos, quando alguém tem filhos gêmeos precisa trocar o quadro de São Cosme e Damião e festejar o caruru com canjica e balas. Dona Quena escolheu dar canjica ao meio-dia do 27 de Setembro, desde quando os meninos nasceram em 1986. Faz 35 anos que ela mantém essa tradição e todos da comunidade vão cantar, bater palmas e fazer uma  roda de samba batendo em baldes, latas,etc. A manifestação cultural precisa de figurinos, instrumentos, e equipamentos de som.

Samba de Roda de Iúna

Segundo seu Aurino, uma outra manifestação tradicional é o Samba de Roda de Iúna. Ele afirma que em 1932, o senhor Mathias migrou da comunidade Quilombola de Remanso e veio morar na fazenda Bonita, hoje Bioenergia  Orgânicos. Após passar alguns anos Dona  Nonata,  esposa de seu Mathias faleceu deixando ele com 8 filhos. O mais velho João José (Dete), Aurelino (Miúdo), Domingos (Dominguinhos), Manoel  Do Reis (Durrêis), Kintino (Roxo), Idalina, José (Paizinho). Sendo o mais velho Dete e o mais novo paizinho ficando  com apenas  4 anos.

 Para sustentar os filhos pequenos, o senhor Mathias trabalhava na roça durante o dia e as noites  precisava pescar. Idalina mocinha cuidava da casa e dos irmãos e para entretenimento enquanto o pai chegava da pescaria, os filhos rapazes resolveram criar uma pequena banda de baldes e latas. Uns batiam, outros cantavam e seu Mathias começou apoiar a idéia, assim ele ficava na pescaria por mais tempo e despreocupado. A partir disso teve a ideia de ajudar os filhos a confeccionar instrumentos.

  Para Dete e Dominguinhos  confeccionaram flautas de cana Brava, Para Miúdo confeccionou  uma caixa com latinha de tinta óleo e couro de veado, para Paizinho e Kintino fez pandeiros com arco da madeira de jenipapo e couro de veado, para Roxo zabumba com madeira oca e couro de veado e para Durrêis confeccionou um Triângulo com uma barrinha de ferro. Com o passar dos tempos, o senhor Mathias conheceu Dona Maria de Franço, viúva com 5 filhos para criar, Francina (Quena), Zenilda (Zene), João (João de Franço), José (Zeca) e Gilma vindos de Oliveira dos Brejinhos.

 

  Seu Mathias resolveu falar com dona Maria de um casamento, morarem juntos e ajudar a criar os filhos um do outro, dona Maria aceitou e foi um casamento que durou, só a morte o separou. Dominguinho se engraçou com Zene e se casou, Roxo se engraçou por Quena e também se casou. A Banda que seu Mathias criou se completou com Zeca e João, dona Maria trouxeram da sua Terra um reisado diferente e se juntou com os batuques de samba de seu Mathias que deu total sintonia.

    Alguns dos filhos de seu Mathias não se identificaram com os instrumentos, procuraram trabalhar e cuidar de suas vidas, Kintino e  Durréis.  Dete tocava flauta com João de Franço ou Duminguinhos formando uma linda Banda. Duminguinhos   sanfoneiro bom, Miúdo tocava viola, zabumba e pandeiro. Roxo e Zeca tocavam zabumba, pandeiros, triângulo e caixa. Aprenderam com seu Mathias a confeccionar seus próprios instrumentos e assim o samba de roda ganhou vida com a união destas duas famílias.

    Hoje os mais velhos faleceram, Seu Mathias, dona Maria, Dete, João de franço, Duminguinhos e Zene são evangélicos, continua o comando com os mestres Quena  e Roxo. A manifestação cultural precisa de figurinos, zabumba, pandeiro, triângulo, caixa, tambor e reco, reco.

Participação política da comunidade

Conselho de Cultura
Conselho Quilombola Regional
Conselho Quilombola estadual
Conselho municipal de Cultura
 Conselho Municipal de meio ambiente
CONAQ/ Conselho Nacional  dos quilombos
 CEAQ-Ba/ Conselho Estadual  de Associações Quilombolas da Bahia
Coordenação/ Participação de Atividades comunitárias
 Conselho Quilombola da Chapada Diamantina

 

Necessidades prioritárias

Saneamento básico nas casas
Acesso a internet e inclusão digital
Apoio a grupo culturais
Apoio a festas tradicionais
 Reforma/implantação do posto de saúde
Projeto de irrigação e equipamentos para roça
Reforma de casas de farinha
Projeto de psicultura
Projeto de apicultura
Projeto de turismo comunitário
Reforma na estrada
Projeto político pedagógico na escola
Incentivo a agricultura familiar
Implantação do PENAE/ programa nacional de alimentação Escolar
Bolsa de incentivo para mestres Griô quilombola

Iracema Sacramento – Liderança Comunitária

Luziene Souza – Jovem Bolsista

Marivalda do Santos – Jovem Bolsista

Luiza Souza – Jovem Bolsista

Rosilda Sacramento – Jovem Bolsista

Edivan Costa – Jovem Bolsista