Comunidade Quilombola

Lagoa dos Pretos   

No início eram poucas famílias, mas como o processo de formação de casamentos foi se formando a comunidade Remanescente Quilombola de Lagoa dos Pretos.

Dados da comunidade

A comunidade é reconhecida pela Fundação Palmares, tendo como data de reconhecimento em 04/03/2004. A comunidade ainda não tem o título de terra, e vivem cerca de 14 familias. O nome da Associação da comunidade é Associação Remanescente Quilombola de Lagoa dos Pretos, cujo presidente é Erisvaldo Gomes da Silva [(75) 99222938]

A nossa comunidade surgiu com a presença de um tronco familiar quilombola, a família de dona Jovelina Rita e do senhor Magdônio, assim como outras famílias, chegaram e começaram a se engajar nas tradições das famílias quilombolas que ali moravam. Aprenderam a festejar os cultos religiosos que herdaram de seus familiares. No início eram poucas famílias, mas como o processo de formação de casamentos foi se formando a comunidade Remanescente Quilombola de Lagoa dos Pretos. O padroeiro da nossa comunidade é São Benedito, foi escolhido para nos representar por ser um santo negro, e como nosso símbolo representa nossa resistência e luta na comunidade.

No início não tínhamos associação, mas depois escrevemos um projeto pensando no desenvolvimento da comunidade, e assim foram surgindo as cobranças por uma associação para melhorar as condições das famílias que moravam ali. A Associação foi criada com ajuda dos funcionário da CAB  fizemos várias reuniões onde fomos reconhecidos como remanescente quilombola em 04/03/ 2004 e foi publicado no diário oficial da união.

Sou Jovelina Rita dos Santos, nascida no dia 19/01/1926. É filha de Teodora Rita dos Santos e de Augusto José dos Santos, tendo 5 irmãos, 2 mulheres e 3 homens, o mais velho José, Eduardo, Jovelina, Maria Rita e Magdônio. Ela também contou que seus irmãos José e Eduardo foram trabalhar na fazenda de João Bezerra, e lá se  afundaram no chão adentro vivos, estavam tapando um rego foi a dor maior que tive, sentimento da vida ver meus irmãos morrerem assim sem saber se ficaram algum tempo vivos ou quando caíram morreram logo. O outro irmão, Magdônio, ficou só com a cabeça de fora e os amigos chegaram que cavou ate conseguiu tirar ele. Após isso, mudamos para  Santarém, e assim moramos em muitos lugares como Ilha Grande, Lagoa do peixe, Cachoeirinha para fazer roça de arroz e Belo Horizonte. O meu pai criou os filhos e depois viemos para Chapecó.  Lembro que na cidade de Cachoeirinha, no dia 8 de dezembro de 1940, eu me casei com José Celestino de Oliveira, pai de Maria Dilce tendo também 5 filhos: Valdira, Raimundo, Maria Dilce, Maria Dilza, e João. Muitos ainda moram no Quilombo, João, Maria Dilza, mas Maria Dilce, a mais velha faleceu em 2020 com 71 anos, ela morava na cidade de Bonito, o Raimundo mora em um assentamento chamado Novo Horizonte, tenho também muitos netos, bisnetos e tataranetos. 

Eu comecei a benzer e a rezar  as crianças com 7 anos de idade, as palavras Jesus que me ensinou. Eu não sei como aprendi as  palavras, ninguém me ensinou, quem chegava na casa de minha  mãe mandando eu rezar as crianças sarava com a reza. Aos 18 anos, fiz meu  primeira parto quando eu ainda era moça. Depois que casei comecei a pegar  crianças como parteira, fiz também os partos dos meus netos e até viajei longe para fazer  partos. Entre as cidades foram Ponte Nova, Bonito de cima, Bonito do meio, Caatinga, Bela flor onde tinha mulher pra ganhar bebê eu ia com chuva ou sol.

Mestra Griô Jovelina Rita dos Santos

Segundo os mais velhos, um dos mitos da nossa comunidade quilombola Lagoa dos Pretos era sobre um homem que virava lobo conhecido como lobisomem, há muito tempo tem estes relatos que em outro povoado vizinho morava um homem que virava lobisomem nas noites de lua cheia, principalmente na semana Santa. Ele ia para pegar

as crianças que eram pagãs, quer dizer, não eram batizadas e até cachorrinhos novos não escapavam dele. Minha Bisa contou também que no tempo que ela tinha suas crianças pequenas um lobisomem bateu na porta dela, mas ela não abriu a porta, e  ela falou que não viu mas que tinha um cheiro muito forte. Horrível!! Ela fala que antigamente as famílias se preocupavam em batizar seus filhos temendo estes fatos que eram verdadeiros, hoje não se ouve mais falar e as famílias não se importam em batizar os filhos e diante dos seus saberes popular Deus não recebe no céu criaturas pagãs, ser humano precisa se diferenciar de outros seres, se batizando tornando criaturas de Deus.

Eu sou Maria Diulza da Silva, nascida no dia 1954 na comunidade quilombola de Lagoa dos Pretos,antes município de Lençóis, hoje Município de Wagner. Sou filha de Jovelina Rita dos Santos.  Estudei aqui na comunidade até os 13 anos com as professoras Djanira  Maria dos Santos e Naíldes Martins Lima, estudei até a 4ª série do ensino fundamental I, porque as condições financeiras era difícil para os pais levarem adiante a educação dos filhos. Precisei começar a trabalhar cedo e era horrível, trabalhava roçando, arrancando matos e tocos para limpar as plantações de capim nas fazendas vizinhas.

 Aos 17 anos me casei com Durval Gomes da Silva, aos 18 anos tive o meu primeiro filho, Erivaldo Gomes da Silva, hoje liderança quilombola e presidente da Associação, em seguida tive gêmeos e mais 3 filhos, Edenilson, Hélio e Ana todos nascidos aqui na comunidade. Após algum tempo me separei do esposo, hoje sou aposentada e continuo na comunidade cuidando da minha mãe que hoje está com 95 anos graças a Deus.

O que mais sei fazer em relação aos conhecimentos tradicionais é ajudar minha mãe em relação ao seu festejo de Cosme e Damião e ajudar na preparação dos remédios, massagens e infusões com as ervas medicinais principalmente quando faz os partos das mulheres da comunidade.

Mestra Griô Maria Dilza dos Santos

MANIFESTAÇÃO TRADICIONAL

 Caruru de Dona Jovelina

Sobre a manifestação cultural da comunidade, eu comecei festejar o Caruru de Cosme e Damião com 27 anos de idade, troquei o quadro de Cosme e Damião porque tive filhos Gêmeos como os nossos mais velhos nos orientavam e também nos ensinaram a cuidar, sempre acender velas e não desprezar Cosme e Damião. Sobre os materiais necessários para a manifestação cultural estão: Atabaque, caixa, agogô, Palmas.

 

o cultivo das ervas medicinais

Sobre as manifestações culturais, Tânia Nunes Jordão comenta sobre o cultivo das ervas medicinais.

Os remédios caseiros eram e são muito importantes para a cura de várias doenças, como barbatimão que é muito bom para cicatrizar machucados e inflamações, remédio para gripe e para asma como raiz de jurubeba, melancia da praia, imburana de cheiro, poejo hortelã miúdo, alecrim e a erva cidreira com mel ou açúcar são esses os ingredientes para o preparo.  Os chás também eram preparados com ervas do quintal, com erva cidreira, capim caboclo, hortelã miúdo, erva doce e alecrim, e o dente de leão o chá é muito bom para os rins. Para as crianças que estão nascendo os dentinhos é bom tomar o chá da folha madura da pinha. Aprendi com os mais velhos a cultivar canteiros com estas ervas medicinais. E também sei fazer os doces típicos da festa junina como bolo de milho, bolo de puba, mungunzá, canjica, caldo de aipim, doce de goiaba e pamonha etc.”

Participação política da comunidade

Conselho de Cultura

Conselho Quilombola Regional

Conselho municipal de Cultura

CONAQ/ Conselho Nacional  dos quilombos

Coordenação/ Participação de Atividades comunitárias

Conselho Quilombola da Chapada Diamantina

Necessidades prioritárias

Acesso a internet e inclusão digital
Apoio a festas tradicionais
Reforma/implantação do posto de saúde
Projeto de irrigação e equipamentos para roça
Reforma de casas de farinha
Projeto de apicultura
Projeto de turismo comunitário
Reforma na estrada
Incentivo a agricultura familiar
Implantação do PENAE/ programa nacional de alimentação Escolar
Bolsa de incentivo para mestres Griô quilombola

Erivaldo Gomes – Liderança da Comunidade

Vanessa Pereira – Jovem Bolsistas

Endio de Jesus – Joven Bolsistas