Comunidade Quilombola

Escôncio – Iraquara – BA  

 Como na maioria dos quilombos, todos na comunidade tem algum tipo de parentesco

Dados da comunidade

A comunidade é reconhecida pela Fundação Palmares tendo como data de reconhecimento em 03/01/2017. Atualmente vivem cerca de 133 famílias coordenadas pela Associação Quilombola do Escôncio (75  999838793).  Teve acesso às cisternas de produção e consumo através dos projetos da CAR, Bahia Produtiva.

FACEBOOK DA ASSOCIAÇÃO? Esconso Quilombola

E-MAIL DA ASSOCIAÇÃO? [email protected]

Com a escassez de diamante na Chapada Diamantina, alguns forasteiros junto com suas famílias saíram em busca de terra férteis para cultivarem, dessa forma na década de 1920 chegaram a comunidade algumas famílias e como eram uma terra que produzia de tudo, logo veio outras pessoas morar aqui. Os primeiros a chegarem eram aqueles que detinha a maior concentração de terra e por isso era eles que as vendiam para os recém chegados. Com isso foi formando a comunidade, com pessoas do sertão, palmeira, Lençóis, Boninal.

Como na maioria dos quilombos, todos na comunidade tem algum tipo de parentesco. Segundo relatos da pessoa de mais idade da comunidade, quando seu Manoel Cândido chegou na comunidade, só havia mato, Na medida que seu Manoel trazia os meeiros, a população ia aumentando, com isso teve a necessidade de desenvolver a agricultura através do feijão, milho, mamona. Também plantavam cana de açúcar pois tinha dois engenhos, um para produzir cachaça e outro produzia rapadura. Todos esses produtos eram usados na alimentação da família e aqueles que sobravam vendiam. A mesma ainda relata que o nome Escôncio surgiu pelo fato da comunidade ser local de esconderijo.

A mestra Isabela Neves da Conceição, nasceu no dia 01/05/1965, moradora da comunidade Quilombola de Escôncio, no município de Iraquara-Bahia, criada por sua mãe Celestina Neves da Conceição e ao lado de seu único irmão José Neves da Conceição. Ela traz de sua infância um grande gosto pelas brincadeiras: de casinha, fazer comidinha, boneca, pula corda, porém adorava fazer arte, tendo a mania de gostar de se aventurar subindo em árvores.

Ainda criança com 10 anos de idade, começou a trabalhar e ajudar a mãe nas tarefas de casa. Além disso também estudava, porém só conseguiu concluir até a quarta série, com muita alegria se recorda de sua infância e como nesse período tinha um forte desejo de ser Cantora de Reis. Da convivência diária com o campo e a mãe, herdou muitos conhecimentos, dentre eles, sobre as ervas medicinais. Elas são utilizadas para combater desde comidas que faziam mal, até banhos para mal olhado. Ela via sua mãe rezar pessoas e assim foi adquirindo muitos outros saberes passados de geração a geração.

 Na adolescência teve sua única filha, porém com as dificuldades a fez ir em busca de melhorias na cidade grande, ela foi morar em São Paulo. Por lá trabalhou de babá e pelo fato de ser boa cozinheira fala com muito orgulho de já ter feito comida para italianos. Durante sua vida na metrópole, sempre vinha visitar seus familiares e depois de alguns anos voltou para sua comunidade onde aos poucos foi ganhando a vida como lavradora. Dentre os talentos culinários abriu um espacinho ao lado de sua casa onde vende petiscos e salgados, também desenvolve costuras muito talentosas em casa.

Ela chegou a trabalhar por alguns anos como merendeira na escola Joaquim De Souza Brito em sua comunidade, onde através da EJA conseguiu terminar seus estudos. Como sempre foi muito participativa, foi secretária da associação e em 2019 assumiu o cargo de Tesoureira da associação Quilombola de Escôncio.

Morando com seu companheiro e também avô de uma netinha, Isabela dividiu seus afazeres domésticos com os cuidados de sua mãe idosa, porém ainda vende seus deliciosos salgados nos fins de semana e participa do grupo de mulheres da cantiga de roda. Ela é uma mestra muito participativa nas tradições da comunidade,  demonstra uma tamanha alegria ao falar do Reisado ao qual participa e do desejo de não deixar que algo presente em sua infância morra com o passar do tempo. A manifestação precisa de  triângulo, pandeiro, timbal, roupas, violão.

História da mestre Griô Isabela Neves da Conceição

As primeiras escolas eram na casa dos próprios moradores, as casas eram de enchimento e coberta de palha, não tinha energia elétrica, nem água encanada, havendo a necessidade de improvisar com luz de candeeiro. Aqueles que tinham melhores condições usavam geradores e a água tinha que caminhar uns 7 Km para conseguirmos beber, tomar banho e lavar os pratos. As roupas eram lavadas nos rios.

Com o passar do tempo a família Britto doou o terreno, ao qual a escola está até hoje, também foi essa família que fez a doação do terreno para construção da igreja, a qual tem na sua formação somente pedras. As casas passaram a ser construídas de adobe e coberta de laje, as construções atuais são de blocos e teias. Só tivemos energia elétrica no ano de 1990 e a água encanada para todos os moradores só chegou para a comunidade no ano de 2004. Éramos completamente esquecidos pelo poder público. A certificação enquanto comunidade quilombola aconteceu no ano de 2017 e desde então a comunidade se organiza para permanecer as culturas vivas e resgatar aquelas que estavam esquecidas. A associação é a principal incentivadora para esse processo de reconhecimento indenitário dos moradores. Um dos símbolos da nossa comunidade são os guerreiros africanos.

A Mestra Joelma Ribeiro de Araújo, conta que nasceu no dia 14-04-1970, filha de seu José Francisco de Araújo e dona Olinda Ribeiro de Araújo. Começou seus estudos aos 7 anos na Escola Joaquim de Souza Brito em sua própria comunidade, no município de Iraquara. Ao recordar sua infância traz consigo muita alegria principalmente quando relata as brincadeiras feitas por ela e suas coleguinhas: casinha, comidinha para as bonecas, peteca, esconde-esconde, baleado, pula corda. Ela sentia muito orgulho do fato de brincar com bonecas de pano e até mesmo fazê-las de sabugo de milho. Desde pequena já gostava de participar das tradicionais culturas da comunidade, onde segundo ela já dançava quadrilha, trançava fita e cantava roda. Ao relembrar sua adolescência relata que já aos 13 anos de idade, tinha a rotina de estudar a tarde e ir pra roça pela manhã, dos estudos lembra dos esforços de seus pais para que ela estudasse, porém diante das dificuldades só conseguiu ir até a quarta série. No trabalho na roça fala das diversas atividades desenvolvidas, dentre elas catar mamona, capinar, além das tarefas realizadas em casa, onde cuidava dos seus irmãos enquanto mais velha. Seus pais tiveram onze filhos, e ela ajudava na criação deles além das atividades domésticas, ao falar das dificuldades daquela época lembra das longas caminhadas de 7 km para conseguirem água em outra comunidade pois esse recurso indispensável ao ser humano não havia em seu povoado. Ainda sobre essa época, ressalta que fazia de tudo um pouco e não media esforços para ajudar os pais com muita felicidade.

Em sua convivência com a mãe adquiriu muitos conhecimentos medicinais já ensinados de geração a geração, através das ervas como: hortelã miúdo, poejo, erva doce, funcho, sabugueiro, capim santo, alecrim. Alguns utilizados  para barriga inchada, dar banhos, mal olhado, resfriado. Essas ervas fazem bem até os dias atuais segundo a utilização de nossa mestre, ela sabe falar a serventia de cada erva para os diversos males herdando os conhecimentos dos antigos.

Joelma se casou aos 17 anos com Antônio Carlos Batista Santos e teve três filhos. Tornou-se dona de casa  e continuou sendo lavradora, vivendo ao lado de seu marido também lavrador. Seus filhos com o tempo também foram construindo sua  famílias, e hoje ela é avó de cinco netos. Em 2017 assumiu o cargo de Presidente da Associação Quilombola do Escôncio, contribuindo com buscas de melhorias na comunidade e também sendo uma das participantes do grupo de mulheres que através da Cantiga de roda buscam resgatar a tradição aprendida com os mais velhos. No dia 28-08-2019 foi reeleita à Presidência da Associação e em 2020 concorreu ao cargo de Vereadora, não se elegendo continuou como Presidenta e ainda mais engajada na luta pela comunidade Quilombola de Escôncio.

História da mestre Griô Joelma Ribeiro de Araújo

Em um dos mitos contado pelos mais velhos, sentados nas calçadas junto com seus filhos, netos e vizinhos. Existiam Lobisomens na época do garimpo, nas noites de lua cheia eles apareciam atiçando os cachorros da comunidade e não podiam sair, nem fazer nada até que eles fossem embora. Eles contam que já viram algumas luzes que pareciam tochas de fogo. Eles também contaram que já viram pessoas que já morreram sentados em garupas de bicicletas.

MANIFESTAÇÃO TRADICIONAL

Reisado

Uma das manifestações culturais da comunidade é o Reisado, que foi por muito tempo feito por mais velhas, e infelizmente por um período quase foi se acabando na comunidade. Ainda assim, despertou o interesse e a crença de algumas mulheres do quilombo, onde de início começa cantando na igreja e na lapinha de uma das moradoras da comunidade. Aos poucos o grupo foi crescendo e também a quantidade de casas a receber a visita desses  grupos, logo após a certificação da comunidade como quilombola em 2017, essa prática se tornou mais participativa pelos moradores. Ressuscitando essa tradição.

Cantiga de roda

Uma outra manifestação é a Cantiga de roda. Ela é uma prática antiga, onde pelo fato de a comunidade de Escôncio não possuir energia antes dos anos de 1990, os mais velhos utilizavam as cantigas como forma de se alegrarem e passarem o tempo, porém foi ganhando o gosto da comunidade e fazendo parte da infância e período escolar de muitos.

Nesse contexto, segundo relatos, o grupo de cantigas formado por mulheres se inicia através de uma aula de Geografia onde o assunto era o estudo do território da nossa gente, com debates em todas as aulas os alunos compreendam a importância do certificado da comunidade como Quilombola e a necessidade da valorização cultural.

Com a certificação da comunidade de Escôncio como Quilombola em 2017, o incentivo de Joelma Ribeiro participante do grupo e também presidente da associação é que desde a infância tinha um forte gosto pelas cantigas. A partir disso, juntamente com outras mulheres, passaram a fazer apresentações quando tinha algum evento na comunidade. De início contava com 40 integrantes, mas com o passar do tempo foi diminuindo. O grupo é composto por mulheres com saias longas e turbantes, elas trazem sua beleza nos jogos de rimas cantados em versos  por cada uma delas e na tradição que remete a algo cultural. Elas buscam acima de tudo resgatar a prática para que não seja esquecida ao longo do tempo. A manifestação precisa de  triângulo, pandeiro, timbal, roupas, violão.

Participação política da comunidade

Conselho de Cultura
Conselho Quilombola Regional
Conselho Quilombola estadual
Conselho municipal de Cultura
Conselho Municipal  de desenvolvimento Social
Conselho Municipal de meio ambiente
CONAQ/ Conselho Nacional  dos quilombos
CEAQ-Ba/ Conselho Estadual  de Associações Quilombolas da Bahia
Coordenação/ Participação de Atividades comunitárias
Conselho Quilombola da Chapada Diamantina
  

Necessidades prioritárias

Saneamento básico nas casas
Acesso a internet e inclusão digital
Apoio a grupo culturais
Apoio a festas tradicionais
Reforma/implantação do posto de saúde
Projeto de irrigação e equipamentos para roça
Reforma de casas de farinha
Projeto de psicultura
Projeto de apicultura
Projeto de turismo comunitário
Reforma na estrada
Projeto político pedagógico na escola
Incentivo a agricultura familiar
Implantação do PENAE/ programa nacional de alimentação Escolar
Bolsa de incentivo para mestres Griô quilombola

Didacia Brito – Educadora Bolsista

Renata de Jesus Conceição – Jovem Bolsista

Irlana de Jesus Santos – Jovem Bolsista