Comunidade Quilombola

Mato Preto – Iraquara-BA  

Um dos símbolos da comunidade é o pé de coco Licuri

Dados da comunidade

A comunidade é reconhecida pela Fundação Palmares tendo como data de reconhecimento em 18/01/2017, mas não tem o título de terra. Moram aproximadamente 122 famílias, tendo a associação da comunidade chamada Associação Quilombola de Mato Preto. O presidente é Andréa Oliveira Cruz (75) 99811-7946.

Facebook da Associação: https://www.facebook.com/Associa%C3%A7ao-Quilombola-MATO-PRETO-455943984601529

E-mail da associação: [email protected]

A comunidade de Mato Preto, encontra-se localizada na zona rural do Município de Iraquara, território da Chapada Diamantina. Segundo alguns moradores mais antigos, a comunidade foi povoada aos poucos a partir da migração de pessoas negras oriunda da região conhecida por Serra de Macaúbas, geograficamente situada entre as atuais cidades de Brotas de Macaúbas, Boninal e Seabra. 

De acordo com o relato do senhor Joaquim Vieira Macedo – 75 anos de idade, seus familiares avós e tios foram os primeiros moradores da comunidade e vieram migrando da região de Serra de Macaúbas chegando ao local por volta de 1913. Eles fugiram das dificuldades de produção agrícolas e aterrorizados pelas notícias sobre “Revoltosos” naquela região. Os ditos “Revoltosos” nos remete a memória de passagens da Coluna Prestes pela Chapada Diamantina, e nos conflitos com os coronéis, por volta da passagem do século XIII para o século XIX. Esse foi um dos motivos de fuga de famílias que residiam nas proximidades que passavam as tropas, conforme menciona mais detalhado abaixo o senhor Joaquim Vieira Macedo.

Meu avô materno Francisco Xavier de Macedo (in memória), juntamente com dois outros irmãos, saíram de Macaúbas, pelas difíceis condições de sobrevivência lá e por medo dos Revoltosos que por ali passavam naquele tempo… Havia rumores de que eles matavam pessoas… Meu pai me contava que eram duas tropas que estavam em confronto… a tropa dos “Mandiocas” e a tropa do Coronel Horácio de Matos… meu avô e seus irmãos aqui chegando conheceram esse local por nome Estrada Boiadeira, compraram um pequeno lote de terra, pertencente a uma antiga Fazenda, e construíram as primeiras casas de pau-a-pique cobertas com palha de coqueiro, viviam da agricultura e de subsistência com culturas de mandioca, milho, feijão, associados a plantações de mamona a cana-de-açúcar

Relato oral de Joaquim Vieira de Macedo

Em seguida migraram outros moradores adivinhos da região de Baixão Velho, Agreste e Olhos d’Água do Basílio, situados no município de Seabra-Ba. Comunidades essas que nasceram ao final do período escravista do século XIII, em que ex-escravos das antigas minas de Diamante da cidade de Lençóis-Ba, migrando na busca por sobrevivência, concentraram-se naquela região, formando núcleos de ex-escravos na busca por terras para assentamento de suas famílias, obtendo como fonte de subsistência a caça, pesca e a coleta de frutos nativos. Posteriormente, com a escassez dos recursos naturais, as dificuldades de permanência aumentaram, forçando os grupos familiares de etnia negra a migrarem para essa e outras regiões do interior da Chapada Diamantina, como confirma o seu depoimento a senhora Maria Rosa dos Santos (79) e seu esposo José Aprígio (78), ambos moradores nascidos e domiciliados na comunidade de Mato Preto, descendentes dos antigos quilombolas da Região Serrana.

Nossos pais, avós e demais parentes vieram migrando aos poucos para essa região por volta de 1915 a 1932 por motivo de dificuldade de sobrevivência e o temor provocado pelos “Revoltosos” os rumores dos conflitos na região da Serra de Macaúbas próxima às terras pertencentes ao Coronel Horácio de Matos, onde moravam nossos avós _ meu pai João Pedro Aprígio dos Santos (in memória), me contava que veio de Olhos d’Água do Basílio em 1932, e que nessa época tios e tias e parentes já moravam por aqui… Foi um tempo de muita fome, por aqui choveu mais… Então meu pai veio para plantar roça aqui e não voltou mais para o Basílio

Relato oral de José Aprígio dos Santos

Segundo relatos do livro “O Império da Serranias”, do autor Ângelo Mattos (in memoriam), a leste do atual município de Iraquara-Ba, “conta-se que no ano de 1712 habitava naquela região um casal de nome Presciliano Moraes e dona Joana Paula de Pinheiros Moraes, de paternidade ignorada. O casal era dono das terras da Fazenda denominada Fortaleza, a 6 km do povoado de Esconso, atual Iraporanga”…  (Pereira, Ângelo de Matos; o Império da Serrainha; pg. 71). Estima-se que posteriormente os herdeiros dessas terras optaram por vender lotes a imigrantes que adivinham de regiões distintas. Fato que confirma os relatos de imigração, na busca de terra para assentamentos de família nesta região. Em 1927, a comunidade estrelinha se estende por 2 km, formando uma vila de casas de pau-a-pique ao longo do “corredor” (Estrada Estreita) que liga o povoado de Mulungu dos Pires à vila de Iraporanga. Esse trecho da estrada, pelo fato do transporte de alimentos e de pessoas se dar por meio de “Carros de Bois” (meio de transporte) foi apelidado, na época, por “Estrada Boiadeira”. 

No ano de 1928 um morador local conhecido de nome popular Neco de Sulina, (In memória), ao desmatar seu lote de terra para a produção agrícola, provocou um incêndio que se alastrou por uma vasta área mata fechada nas margens da estrada e durante um período de seis meses, a mata queimou deixando um rastro de cinzas e carvão na passagens com coloração Preta. As pessoas que ali passavam apelidaram o local, substituindo o nome “Estrada Boiadeira” por nome Mato Preto, em alusão a mata incendiada, afirma o senhor Joaquim Vieira em seu depoimento. Nesse período habitava no local cerca de 10 famílias; o povoado de mato Preto crescia formando uma vila de casas onde acontecia festejos juninos, festas de Reis, rezas de Santos, e baile de sanfona, como afirma em seu depoimento a senhora Maria Conceição da Silva- 85 anos de idade, moradora nascida e criada na comunidade.

Na idade de 13 anos, ajustavam moças e rapazes nas rocas para catar (colher) mamona e vender… o dinheiro arrecadado era para o pagamento dos sanfoneiros que faziam alegria da nossa comunidade nos bailes a cada 15 dias… onde cantávamos em poesias de rima, nossas tristezas, alegrias e desejos através de antigas “cantigas de roda”, em volta da fogueira até o amanhecer…

Relato oral: Maria da Conceição da Silva

 No ano de 1992 ocorreu um surto de doenças de chagas em toda a região do município de Iraquara-Ba, onde um programa do governo federal no combate ao barbeiro (inseto causador da doença de chagas), construiu casas de alvenarias cobertas de telhas Cerâmica, substituindo todas as casas de pau-a-pique da região, e também da comunidade de Mato Preto. 

Atualmente a comunidade de Mata Preto possui 150 famílias, das quais cerca de 80% da população é de etnia negra, e de cor preta oriundas de comunidades negras que se formaram ao final do período escravista, oriundos dos antigos garimpos do século XIII, descendentes dos antigos escravos africanos introduzidos na mão de obra das minas de diamantes da Chapada Diamantina. A área geográfica de Mato Preto mede atualmente em torno de 6 Km quadrado. 98% das famílias são de baixa renda e sobrevive de benefícios sociais tendo agricultura de subsistência, lavouras de milho, feijão, mandioca e mamona como fonte de renda complementar. Mantém-se atualmente as manifestações culturais e tradicionais da comunidade como: festa de Reis, festejos de Santos e cultura junina, com apoio da Associação de moradores.

Em um dos mitos da comunidade, dizia-se  que no tempo do vei ziquinha,  perto da roça de António Simoa aparecia uma “livuzia”. Conta que certa vez, as pessoas que passavam ali por volta das meia noite viram uma uma mulher grandona, nua  e com umas trouxas de pano na cabeça,  as pessoas sempre viam e contavam. Todo mundo tinha medo de passar muito tarde da noite nesse local. Porém  até hoje não conseguiram identificar se era de fato uma pessoa ou uma aparição.

HISTÓRIA DO MESTRE GRIÔ:

Nelci Alves Rodrigues

Nelci Alves Rodrigues 54 anos de idade nascida e residente na comunidade de Mato Preto, conta que seu terreiro já tem cerca de 20 anos de existência. Onde mantém a cultura de fazer a mesa de Cosme Damião oferecida para os inocentes. 

Eu fiquei doente um tempo, através de um trabalho que fizeram para mim de magia negra, onde procurei o benzedor chamado seu Francisco, conhecido como Velho Chico morava na Estiva… onde ele com auxílio da espiritualidade me falou que eu tinha algumas forças espíritas e que também estava sofrendo alguma perturbações por conta de um trabalho contrário que fizeram para mim, mas que se eu fizesse o meu tratamento, em feitura no santo eu iria ficar bem… só que nessa feitura eu descobri que o meu mentor que é Cosme Damião através de um dia que eles baixaram em mim e  pediu que fizesse a mesa dos Inocentes… foi quando comecei fazer  o Jarê que aqui na comunidade algumas pessoas em uma resistência tem um certo preconceito. Por ser uma coisa muito séria continuei com o festejo, cantando os pontinhos batendo Palma e uns batendo os tamboretes de couro, pois não tenho outro tambor. Assim a reza foi só ganhando mais público… E com isso hoje fazemos o jarê no dia de Cosme e Damião que aqui costuma festejar no dia 27 de setembro, e foi isso Cosme Damião foi quem me salvou por isso até hoje mantenho essa devoção… até o dia que eu puder e que Deus me ajudar, pois Deus sempre me ajudou e tem alcançado várias graças com a fé e esse alimento que tenho em Cosme Damião

Relato oral contado por Nelci Alves Rodrigues 20/04/2021

HISTÓRIA DA MESTRA GRIÔ:

Maria Rosa dos Santos

Dentre as manifestações tradicionais, a Quadrilha Tradicional da comunidade de Mato Preto teve início no ano de 1983, pelo Professor Domingos e dando segmento com Professor Manoel Teles (in memória). Hoje um grupo de jovens se organiza para dar seguimento a essa manifestação cultural. Há 39 anos vem acontecendo essa festa que já virou tradição. Tendo como atrações principais, quadrilha caipira, pau de fita, apresentação de casamento da roça e outros festejos. Assim, o grupo se responsabiliza pela customização de vestimentas e organização de decoração do espaço para essa data tão especial. Essa manifestação ocorre sempre no mês de Junho na comunidade Quilombola do Mato preto, a abertura do evento sempre se inicia com alguma história ocorrida na comunidade contada pelos mais velhos, tornando assim o tema da quadrilha a ser apresentada. A manifestação cultural precisa de sandálias de couro, chapéu de palha e trajes masculino e feminino da quadrilha para dar continuidade aos festejos. Além de materiais para ornamentação de São João.

MANIFESTAÇÃO TRADICIONAL

Quadrilha Junina

Dentre as manifestações tradicionais, a Quadrilha Tradicional da comunidade de Mato Preto teve início no ano de 1983, pelo Professor Domingos e dando segmento com Professor Manoel Teles (in memória). Hoje um grupo de jovens se organiza para dar seguimento a essa manifestação cultural. Há 39 anos vem acontecendo essa festa que já virou tradição. Tendo como atrações principais, quadrilha caipira, pau de fita, apresentação de casamento da roça e outros festejos. Assim, o grupo se responsabiliza pela customização de vestimentas e organização de decoração do espaço para essa data tão especial. Essa manifestação ocorre sempre no mês de Junho na comunidade Quilombola do Mato preto, a abertura do evento sempre se inicia com alguma história ocorrida na comunidade contada pelos mais velhos, tornando assim o tema da quadrilha a ser apresentada. A manifestação cultural precisa de sandálias de couro, chapéu de palha e trajes masculino e feminino da quadrilha para dar continuidade aos festejos. Além de materiais para ornamentação de São João.

Terno de Reis das Borboletas

Uma outra manifestação cultural é o Terno de Reis das Borboletas, que acontece entre o dia 24 e 6 de janeiro, para anunciar a chegada de Jesus e homenagear os três reis magos. Os reiseiros (reis das Borboletas) passam de casa em casa cantando e tocando, despertando os moradores na madrugada, solicitando dos moradores uma pequena oferta para o festejo de Santo Reis. O terno de Reis das Borboletas é composto por homens e mulheres, onde é comum os homens serem responsáveis por tocar os instrumentos musicais, tais como: pandeiros, triângulos, violão, caixa de couro etc.  Já as mulheres, cantam e bailam no salão. Assim o grupo em sintonia vão tocando e cantando de porta em porta juntos, levando essa alegria a todos os moradores da Comunidade. A manifestação cultural precisa de caixa de couro, viola e bandeira do Brasil. Além de trajes masculinos e femininos, chapéus de palha enfeitado, instrumentos musicais, estandarte do terno de reis.

Link para acesso Vídeos Manifestações cultural 1 e 2: https://instagram.com/gp_cult_profmanoelteles?igshid=175qmt20kyveu

Participação política da comunidade

Conselho de Cultura 
Conselho Quilombola Regional
Conselho Quilombola estadual
 Conselho municipal de Cultura
Conselho municipal da criança e do adolescente
 Conselho Municipal  de desenvolvimento Social
Conselho Municipal de meio ambiente
 CONAQ/ Conselho Nacional  dos quilombos
CEAQ-Ba/ Conselho Estadual  de Associações Quilombolas da Bahia
 Coordenação/ Participação de  Atividades comunitárias 
Conselho Quilombola da Chapada Diamantina

Necessidades prioritárias

Saneamento básico nas casas 
Acesso a internet e inclusão digital 
Apoio a grupo culturais 
Apoio a festas tradicionais 
 Reforma/implantação do posto de saúde 
 Projeto de irrigação e equipamentos para roça 
Projeto de turismo comunitário 
Reforma na estrada 
 Projeto político pedagógico na escola 
Incentivo a agricultura familiar 
Implantação do PENAE/ programa nacional de alimentação Escolar
Bolsa de incentivo par mestres Griô quilombola

Andréia de Oliveira Cruz – Educadora

Eovânio Jesus dos Santos – Jovem Bolsista

Daiane Ferreira de Menezes – Jovem Bolsista