Comunidade Quilombola

Gitirana – Bonito – BA  

A mesma recebe este nome devido a grande quantidade de cipó que haviam no local que possuía esta nomenclatura.

Dados da comunidade

A Comunidade é reconhecida pela Fundação Palmares desde 18/11/2011 com cerca de 150 famílias. Acompanhada pela Associação Comunitária de Gitirana dirigida por João Batista José dos Anjos (75 99425597). 

Facebook da associação: Associação Comunitária de Gitirana 

E-mail da associação: [email protected]

Dentre os projetos desenvolvidos pela comunidade e seus parceiros, estão o projeto da CAA, Projeto da CAR e com os comerciantes locais. Também participou do Edital de Cultura Popular, e Projeto do edital 11, específico para comunidades quilombolas, convênio 550/18, nosso empreendimento é de galpão, máquina de beneficiamento de café, um trator cafeeiro e seus implementos. 

 

A comunidade quilombola de Gitirana é localizada no município de Bonito, há 7 km de distância, ligada por uma estrada principal que leva à cidade. Conforme relatos com as pessoas mais idosas da comunidade, a mesma recebe este nome devido a grande quantidade de cipó que haviam no local que possuía esta nomenclatura, Gitirana. Tudo é iniciado a partir do senhor João José de Novais (vulgo Mocó) e do senhor Ladislau (vulgo Lau), os dois fundadores e os primeiros moradores da comunidade, que possuíam uma relação muito boa e amigável. Inicialmente seu Lau residia um pouco distante da atual Gitirana, na cabeceira do Brejo, seu Mocó se estabeleceu mais ao centro da comunidade. 

Ladislau veio da região chamada Sertão, refugiado da seca, um homem extremamente religioso, pai de 6 filhos e mais velho que seu Mocó. O senhor João nasceu em Barra da Estiva, mudou-se para Lagoa Nova e posteriormente para a Gitirana acreditando em melhores condições de vida, casou-se com a filha do senhor Ladislau e posteriormente foi casado mais duas vezes, totalizando 14 filhos, onde 3 faleceram. Seu Mocó era um benzedor muito conhecido na região, muito devoto e religioso, realizava suas benzeções em uma igreja pequena recebendo inúmeras pessoas de outros locais, é importante citar que alguns anos depois o senhor Mocó se candidatou a vereador, o que o deixou ainda mais conhecido, além das suas várias caridades, como o acolhimento de pessoas desconhecidas na sua própria casa. 

A Mestra Alcinete Pereira dos Santos nasceu em uma tarde do dia 16 de janeiro de 1974 na cidade de Canarana. Filha de Zumerina Pereira dos Santos e Antônio Pereira dos Santos, morou até os seus onze anos no sertão em um povoado conhecido como Vila Nova de Cafarnaum. Mudou-se com toda família para Gitirana, lugar onde vive até hoje. Começou seus estudos com 7 anos de idade no sertão, onde cursou até a 3ª série do ensino fundamental, conta que andava a pé 7 km para ir a escola. Com a mudança de lugar, teve que faltar um ano à escola ,e no ano seguinte continuou na Gitirana a 4ª série, onde foi o último ano de escola. 

Por conta da dificuldade de distância para ir ao colégio que ficava na cidade, teve que parar de estudar, pois precisava trabalhar para ajudar os pais em casa. Recorda que gostava muito de brincar de roda, pula corda, de boneca ,mais a brincadeira que mais se recorda era dos panelinhas, reunia com outros crianças e cada um levava um alimento, cozinhavam em baixo de uma árvore e todos partilhavam, tempo simples, mais era o melhor. Buscava lata de água na cabeça nos baixões das roças quando chovia os tanques ficavam cheios, onde lavavam roupa, se reunião e levavam feijão verde, ovos cozidos pisados com sal e semente de coentro, era uma festa só, cantoria surgia e ao terminar a lavada de roupa, ali se estendiam no capim. 

Quando não chovia tinham que se deslocar ao povoado vizinho Cabeceira do Brejo para lavar as roupas. Na adolescência teve seu primeiro namorado aos seus 15 anos e outras paqueras, mas o grande amor da vida conhecia desde infância, ao longo do tempo começaram a namorar, ele era conhecido como Osmar que amava terno de reis, filho de um dos primeiros moradores de Gitirana (vulgo Mocó). Ficaram noivos no belo dia 24 de fevereiro de 1991, chegaram a se casar, trazendo a vida a três, onde um não se encontra e veio a falecer com oito meses. 

Ficou viúva em 2012 seu esposo faleceu com problemas de chagas e insuficiência cardíaca. Dia que deixou muitas saudades a familiares e amigos. Demorou muito pra similar a ausência, faltou ânimo, sentido de viver e encontrou forças para se levantar, foi através de Deus e na igreja católica seu sustento para aguentar tamanha dor. Começou a frequentar a igreja católica aos seus 15 anos indo para catequese, conheceu a igreja em Gitirana já que onde morava não tinha igreja. 

Depois de adulta veio a realizar a sua primeira comunhão e crisma. Em 2014 foi chamada pela a jovem Rosinete para uma formação de ministra da palavra, hoje ministra da palavra da comunidade, celebra uma a vez a cada domingo com muito amor e fé. Mora sozinha, e de seus dois filhos têm dois netos. Recorda também das festividades que havia na comunidade, alvorada, via sacra, festa da Padroeira, São João, em um evento chamado PHN que acontece há 8 anos, sempre no mês de setembro reunindo toda comunidade, povoados vizinhos e a diocese. 

 

História da mestre Griô Alcinete Pereira dos Santos

A ocupação da Gitirana deu-se por meio de barracos, a primeira casa construída pertenceu ao senhor João, seguido do senhor Ladislau, as duas casas existentes naquela época, pertencente a duas famílias distintas: Os Rodrigues e os Canaã. Com a chegada de outras famílias e os casamentos, a comunidade foi crescendo e uma das preocupações do senhor João estava relacionada ao estudo dos seus filhos e das outras pessoas da Gitirana, o estudo era muito difícil naquela época, no entanto, seu Mocó contratou 3 professoras com o próprio dinheiro para ensinar na comunidade, dentro da igreja. Como a energia só chegou a 35 anos era muito comum que as pessoas estudassem a luz do lampião e candeeiro. Durante as conversas ficou notório que as principais culturas daquela época eram o café, mandioca e a cana de açúcar, havia um engenho que foi acabado há muito tempo por conta da escassez de chuvas e um rodão. Este último pertencia ao senhor João, a qual pisava o café com os bois. Assim como o transporte das pessoas, a exportação das produções se dava por meio de cavalos, jegues e burros. Cada família possuía o seu espaço e a única forma coletiva de cultivo se dava por meio do empréstimo da terra em troca de parte do que era produzido. Entretanto, algumas atividades eram realizadas em coletividade como a pisa do café, onde seis pessoas se reuniam em volta de cada pilão, mantendo sempre a festividade durante o trabalho, tudo era produzido de forma manual, inclusive os derivados da cana. 

MANIFESTAÇÃO TRADICIONAL

Alvorada

Dentre as manifestações culturais, havia Alvorada. No ano de 1991 foi construído a igreja católica na comunidade, pois só existia até então a igrejinha construída por seu Sr° João José de Novais  (vulgo Mocó). Neste ano aconteceu a Festa da Padroeira com todos os outros anos, só que pela primeira vez teve a alvorada, e esta festa aconteceu durante 9 dias. Outras comunidades viam para participaram, a Santa era buscada da igrejinha para a nova igreja, quando a celebração acabava a Santa era buscada da igrejinha para a nova igreja, quando a celebração acabava a Santa era levada para casa de um morador a cada dia. Os grupos de alvorada das comunidades se reuniam uma vez no ano e andavam de uma comunidade para outra cantando e louvando a Deus. Os principais instrumentos, gaita, bumba, caixa, pandeiro, triângulo e pandeiro. O seu Eurico relata que de 2017 em diante a frequência e a participação dos mais velhos diminuíram bastante e que devido a pandemia tem 1 ano que não acontece a alvorada.

São João

Durante o mês de junho, jovens, crianças e a comunidade se preparavam para a festa junina, juntamente com a Escola Municipal João José de Novais. O dia do São João conta com casamento da roça, quadrilha, dança da saia, pau de sebo, fogueira em pé, pau de fita, barraquinhas com culinária, milho cozido, bolo de aipim, canjica, amendoim, quentão e ao fim das apresentações uma banda local de forró. A festividade geralmente acontece na quadra esportiva da comunidade, com participação de alunos de escola do pró jovem e de oportunidades caso outros lugares queiram se apresentar.

 MITO HISTÓRIA

Segundo os mais velhos, sobre os mitos. Antigamente coisas muito ruins podem acontecer com uma pessoa se ela for acordada durante um momento de sonambulismo. Ela pode ficar desorientada ou até tomar um susto, morre de infarto ou terá um AVC, como muita gente diz. Inclusive há quem recomende conduzir um sonâmbulo suavemente de volta para a cama, que sonâmbulos não podem ser acordados.

Participação política da comunidade

Conselho de Cultura
Conselho Quilombola Regional
Conselho Quilombola estadual
Conselho municipal de Cultura
 Conselho Municipal de meio ambiente
CONAQ/ Conselho Nacional  dos quilombos
 CEAQ-Ba/ Conselho Estadual  de Associações Quilombolas da Bahia
Coordenação/ Participação de Atividades comunitárias
 Conselho Quilombola da Chapada Diamantina

Necessidades prioritárias

Saneamento básico nas casas
Acesso a internet e inclusão digital
Apoio a grupo culturais
Apoio a festas tradicionais
Reforma/implantação do posto de saúde
Projeto de irrigação e equipamentos para roça
Reforma de casas de farinha
Projeto de psicultura
Projeto de apicultura
Projeto de turismo comunitário
Reforma na estrada
Projeto político pedagógico na escola
Incentivo a agricultura familiar
Implantação do PENAE/ programa nacional de alimentação Escolar
Bolsa de incentivo para mestres Griô quilombola

Leandra de Souza Santos – Jovem Bolsista

Monica Santos Miranda – Jovem Bolsista