Comunidade Quilombola

Quilombo do Ginete – Barra de Estiva – BA  

 O principal símbolo da comunidade é o Morro do Ginete

Dados da comunidade

A comunidade é reconhecida pela Fundação Palmares tendo como data de reconhecimento em 02/05/2016. Também tem o título de terras e vivem cerca de 65 famílias. Possuem Associação Comunitária chamada Associação Comunitária Remanescente de Quilombo do Ginete (77 999363024). Participou de projeto ou cadastro cultural pela Aldir Blanc com a apresentação da quadrilha junina Nações Unidas.

E-MAIL DA ASSOCIAÇÃO: [email protected]

A comunidade quilombola do Ginete surgiu entre 1977 e 1980, quando seu Zenálio e sua família chegaram naquele território e fizeram ali a primeira construção da comunidade. Ela está situada no município de Barra da Estiva-Ba no território da Chapada Diamantina, a comunidade fica a 23km da sede e tem em sua formação aproximadamente 65 famílias domiciliadas. O principal símbolo da comunidade é o Morro do Ginete, pois quando se fala em comunidade do Ginete essa é a primeira que vem à cabeça ou já viu alguma foto.  Então o significado literal dessa serra para a comunidade é de principal ponto de referência e de representatividade.

Seu Zenálio Gomes de Souza, conhecido como seu Zeca, é o patriarca da comunidade Quilombola do Ginete. Nasceu na comunidade de Mulungu do Morro em Boninal, no dia 05/06/1936 em uma família de poucas condições financeiras. Esta era formada por seu pai, mãe e mais quatro irmãos. Devido a escassez de recursos na época, Seu Zeca começou a trabalhar muito cedo para conseguir ajudar sua família a conseguir o alimento de cada dia. O acesso à escola não era possível, pois sua família não tinha condição de arcar com as despesas escolares da época, período em que para estudar era necessário pagar.

Alguns anos se passaram e sem nenhuma perspectiva de melhora a partir do forte agravamento da crise financeira, a família se viu obrigada a fugir da fome e deixar a sua cidade de origem, começava aí uma longa jornada em uma caminhada de três dias e três noites, se alimentando de farinha e água até chegarem ao distrito de Triunfo do Sincorá em Barra da Estiva. Neste distrito aos treze anos de idade, seu Zeca começou a trabalhar em regime de meia com sua família para um fazendeiro da região, e por ali ficou até se criar e adentrar a vida adulta. Em 1959, seu Zeca se casou com Francisca Pereira de Souza com quem teve oito filhos, dentre eles sete estão vivos. Ainda trabalhando eles passaram por várias localidades dentro do município trabalhando, até chegarem a comunidade do Jacu onde trabalharam por alguns anos. Entre 1977 à 1980, conseguiram comprar um terreno onde hoje está situada a comunidade Quilombola do Ginete, e lá vive com sua esposa, filhos, sessenta e cinco netos e vinte e dois bisnetos. Seu Zenálio é uma fonte de inspiração para todos da comunidade por toda sua história de superação e persistência.

História do mestre griô Zenálio Gomes de Souza

Temos como principal lenda a do lobisomem, a história se trata de um morador de comunidade que morava em uma área isolada bem próximo as serras. Lá não havia energia elétrica, nem ao menos moradores próximos e por incrível que pareça esse morador já tinha uma certa idade e hábitos arcaicos, o que tornava uma figura suspeita aos olhos das crianças que o viam. Estas tomadas pela imaginação fértil e pelos causos que os mais velhos costumavam contar dos famosos lobisomens, elas comentavam que tinham características semelhantes às daquele senhor e logicamente os boatos logo começaram a surgir. Todos falavam que aquele senhor estranho, de pouca palavras, olhos avermelhados e que vivia de maneira isolada em noites de lua cheia se transformava em lobisomem. Diziam que ele uivava ao redor das serras e adivinha só: as suas presas favoritas eram crianças. Sabemos que é uma lenda que nunca foi comprovada e que sempre foi fruto da imaginação fértil da comunidade, hoje esse senhor se mudou mas ainda vive na comunidade, tanto que em uma parte mais habitada a lenda acabou morrendo.

Vale ressaltar que todos os fatos listados acima são de teor fictício, sem qualquer compromisso com a realidade. Ou seja, se trata de uma lenda, algo que é comum dentro das comunidades e que não tem nenhuma intenção de discriminar, julgar ou agir de maneira preconceituosa com o senhor acima citado ou com suas características.

Emília Gomes Pereira, nasceu no dia 13/07/1965 na comunidade Quilombola de Moitinha. Filha de seu Zenálio e dona Francisca, chegou na comunidade a mais ou menos 40 anos, juntamente com seus pais, sendo assim também foi uma das primeiras moradoras da comunidade. Ela é uma grande influência religiosa da comunidade, pois também é Rezadeira e Chefe de cozinha. Emília é casada, tem nove filhos e quatro netos.

História da mestra Emília Gomes Pereira

Um dos Mitos da comunidade, chamado A Ladeira da Muriçoca, Iracema S. Santos conta que várias pessoas da comunidade carregam grandes cismas em passar por esta ladeira após o anoitecer. Não só a ladeira, mas antes dela na encruzilhada, onde vai para escola e associação eles contam que  antes de subir a ladeira existem relatos reais de pessoas que viram e encontraram coisas estranhas.

Contavam-se Edivaldo, conhecido como Diva, que senhor Antônio de Marcolina e um amigo Cosme filho do senhor Florêncio, ambos já falecidos, estavam indo para o coqueiro quando na encruzilhada às 19 horas da noite olharam para o lado e viram um carneiro branco. Diva tentou pegar e não conseguiu, caiu no chão puro e não conseguia pegar, Cosme não via nada, quando Diva tentou contar para o amigo, perdeu a fala, foi preciso seu pai tarrafear para voltar a falar. Por isso sempre ao anoitecer evitavam passar neste lugar.

O senhor Domingos Nunes de Souza, conhecido como Domingão, também já falecido, conta que quando namorava sua esposa Marizé, vinha altas horas da noite para sua casa na fazenda de José Rebouças. Uma certa noite ao chegar no meio da ladeira tinha um caixão de defunto atravessado e um clarão que ele conseguiu ver em detalhes, ao virar as costas ele sentiu mais remorso ainda e Domingo resolveu encarar de frente. Nesse momento, lembrou que os mais velhos falavam que se atravessasse algo de ferro na boca, venceria o medo, ele lembrou da sua peixeira (faca na cintura), atravessou a mesma na boca e soltou por cima do caixão. Ao olhar para trás não viu mais nada, já tinha desaparecido.

Zezito filho do senhor Rosalvo, curador da comunidade, os dois já falecidos, um dia estavam vindo da pescaria na lagoa bonita mais ou menos às 22 horas da noite, ao chegar nos pés de caju, no início da ladeira, veio de encontro com ele uma porca de banda só, saindo fogo da boca e rocando. Ele se assustou, mas lembrou de outros relatos de pessoas da comunidade, segurou firme seu facão na mão e passou por ela se arrepiando de medo. A explicação que os mais velhos da comunidade têm é que nesta baixa morou uma família da senhora Marcolina que era uma verdadeira bagunça, filhos não respeitavam os pais e os pais não respeitavam os filhos, um dia um dos filhos bateu na mãe com uma mão de pilão, enquanto pilava arroz, os pais jogavam pragas nos filhos e assim sucessivamente. Ambos faleceram e este trecho  ficou mal assombrado.

MANIFESTAÇÃO TRADICIONAL

Quadrilha Junina Nações Unidas

Uma das manifestações culturais da comunidade é a Quadrilha Junina Nações Unidas que teve seu início no ano de 2005. Foi fundada pelo professor da comunidade na época João Souza Batista que a batizou de Fuzaca do Zenálio. A quadrilha tem em sua formação 16 casais e um marcador, tem em seu figurino roupas tradicionais caipiras e utiliza para sua apresentação uma caixa de som e músicas típicas nordestinas. Para a continuidade da Quadrilha, são necessários um equipamento de som e figurino tradicional caipira.

Reisado do Ginete

A outra manifestação cultural é o grupo de reisado do Ginete, que teve início ainda na comunidade de extrema Barra da Estiva. Ela começou a partir da segunda geração da comunidade no ano de 1990, o líder do grupo na época era Vanjevaldo, Genro de seu Zenálio. Ao longo do tempo, o terno passou para o comando de Gilmar Pereira, neto de Seu Zenálio já situando-se na comunidade do Ginete com a terceira geração da família. O grupo de Reisado do Ginete tem a tradição de circular por praticamente todo o município Barrestivense, visitando os presépios nos primeiros seis dias de cada ano e tendo como encerramento a tradicional festa de Reis que atrai muitos visitantes para a comunidade. Para continuidade do Reisado precisamos de mais instrumentos musicais.

Participação política da comunidade

 Conselho de Cultura
Conselho Quilombola Regional
Conselho Quilombola estadual
Conselho municipal de Cultura
 Conselho Municipal de meio ambiente
CONAQ/ Conselho Nacional  dos quilombos
CEAQ-Ba/ Conselho Estadual  de Associações Quilombolas da Bahia
Coordenação/ Participação de Atividades comunitárias
Conselho Quilombola da Chapada Diamantina
 
 

Necessidades prioritárias

Saneamento básico nas casas
Acesso a internet e inclusão digital
Apoio a grupo culturais
Apoio a festas tradicionais
Reforma/implantação do posto de saúde
Projeto de irrigação e equipamentos para roça
Reforma de casas de farinha
Projeto de psicultura
Projeto de apicultura
Projeto de turismo comunitário
Reforma na estrada
Projeto político pedagógico na escola
Incentivo a agricultura familiar
Implantação do PENAE/ programa nacional de alimentação Escolar
Bolsa de incentivo para mestres Griô quilombola

 

Suziane Alves Santos – Jovem Bolsista

Igleyson de Souza Barreto – Educador Bolsista